Home ColunasPlano Polêmico #58 | Instinto Selvagem 2 e a Maldição das Sequências

Plano Polêmico #58 | Instinto Selvagem 2 e a Maldição das Sequências

Será que a sequência de Instinto Selvagem é tão ruim assim?

por Leonardo Campos
1,4K views

Há várias maneiras de se estabelecer um preâmbulo para o polêmico debate em torno de sequências cinematográficas, mas opto por um ponto de partida metalinguístico que considero demasiadamente interessante: Pânico 2 e a troca de diálogos inteligentes em uma sala de aula universitária, com o professor e seus estudantes de cinema refletindo, de maneira dinâmica, se as sequências podem ou não superar a qualidade de seus originais. Dirigido por Wes Craven e escrito por Kevin Williamson, o filme é um dos exemplos de como uma continuação devidamente planejada pode ser equivalente ou até mesmo ultrapassar as expectativas do legado de seu antecessor. A franquia, na época pensada para ser uma trilogia, mas que hoje caminha para o seu sétimo filme, entregou ótimas linhas de diálogos, estética firme e personagens evoluídos, se tornando, em meu ponto de vista, o melhor de todos os bons filmes da série até então. Essa mencionada cena, irônica por sinal, é uma reflexão em torno da própria narrativa. Estariam os personagens, ali, superando o sucesso crítico e financeiro do que fenômeno cultural anterior? Neste panorama, eles flertam com O Poderoso Chefão, Exterminador do Futuro, citam cineastas e tramas influentes, nos colocando diante da intrigante questão levantada no começo deste parágrafo. Se fosse interrogativa, a colocação estabeleceria um sonoro “depende”.

O motivo mais óbvio é a questão financeira. Caso tenha rendido bem e tem base sólida de fãs, muitas vezes a sequência será realizada por interesses de retorno. Instinto Selvagem, o ponto nevrálgico aqui, sempre foi especulado. Por onde estaria Catherine Trammell depois dos acontecimentos do primeiro filme? Nick Curran foi apunhalado momentos depois da ambígua cena de desfecho? São perguntas que, neste caso, poderiam ser respondidas indo além do entretenimento e da máquina capitalista, numa junção das duas coisas, em simbiose com um novo estudo fascinante de personagens tão complexos. Mas isso não aconteceu. Por mais que eu me divirta e me envolva com a sequência, assistida na época, ainda sem a maturidade e o conhecimento acerca da linguagem cinematográfica de hoje, devo confessar que o filme é genérico, insano, segue escolhas questionáveis e possui diálogos menos firmes. Ademais, se não fosse tido como continuidade dos personagens de Joe Eszterhas, passaria tranquilamente como outro qualquer suspense erótico com toques policiais, daqueles que eram lançados diretamente para o mercado de vídeo e, atualmente, estão em abundâncias nos streamings.

O site Olhar Digital, em uma lista instigante publicada em fevereiro de 2024, escrita por Kelvin Leão Nunes da Costa e editada por Bruno Ignácio de Lima, destaca exemplos notáveis onde as sequências se mostraram superiores aos seus originais. Trazendo aqui, caro leitor, como ilustração, pois as opiniões da dupla não necessariamente refletem o meu ponto de vista sobre tais continuações, combinado? Dentre esses casos, eles delineiam que Planeta dos Macacos: O Confronto, que, sob a direção de Matt Reeves, conseguiu redefinir a franquia, mostrando que remakes e reboots podem muito bem ser grandes obras em seu próprio direito. Com uma narrativa mais engenhosa, uma direção elegante e um uso magistral de CGI, este filme não só atraiu a audiência, mas conquistou crítica e público, elevando a qualidade da saga iniciada por A Origem (2011) e solidificando seu lugar na história do cinema. Da mesma forma, Star Wars: O Império Contra-Ataca estabeleceu um novo padrão em franquias cinematográficas. Lançado em 1980, é amplamente considerado a melhor produção da trilogia original de Star Wars e uma das obras mais icônicas da cultura pop. Sob a direção de Irvin Kershner, este filme introduziu momentos memoráveis, como a Batalha de Hoth e a revelação da verdadeira paternidade de Luke Skywalker. A profundidade emocional do filme, aliada a uma narrativa mais sombria e complexa em comparação com Uma Nova Esperança, ressoou profundamente com o público.

Estas nuances não só melhoraram a experiência do espectador como solidificaram a influência da saga no gênero de ficção científica e aventura, tornando O Império Contra-Ataca uma peça essencial para qualquer amante do cinema. Outra sequência que merece destaque é Homem-Aranha 2, lançado em 2004. A direção de Sam Raimi e as atuações memoráveis de Tobey Maguire, Kirsten Dunst e Alfred Molina contribuíram para a criação de um enredo mais sólido e desenvolvido, o que a consolidou como um dos melhores filmes de super-herói já feitos. Enquanto o filme anterior lançou as bases do que poderia ser uma narrativa de super-herói, Homem-Aranha 2 aprofundou-se nas lutas internas de seu protagonista, trazendo uma nova camada de complexidade ao personagem e permitindo um desenvolvimento significativo. As cenas de ação grandiosas e emocionantes, combinadas com a exploração profunda dos temas de responsabilidade e sacrifício, resultaram em uma sequência que não somente divertiu, mas fez o público refletir sobre o que significa ser um herói. Há também um destaque para O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, lançado em 1991, considerado outro grande exemplo de como uma sequência pode não só superar o filme original, mas também deixar uma marca indelével na cultura popular. Sob a direção de James Cameron, o filme inovou em termos de efeitos especiais e escalas de ação, criando sequências memoráveis que se tornaram icônicas, num enredo mais complexo com um tom emocional e reflexivo.

A elevação do tom se delineia, especialmente, em relação aos conceitos de destino e humanidade, fortalecendo, na opinião da lista, a sua posição como uma das melhores obras de ficção científica de todos os tempos. O Julgamento Final não só trouxe uma experiência cinematográfica aprimorada, mas também influenciou as produções de ficção científica que vieram depois, reforçando a importância de se desenvolver narrativas profundadas e inovadoras nas sequências. Estes exemplos sublinham a capacidade do cinema de evoluir e surpreender, revelando que, em algumas ocasiões, as sequências não são meros adendos, mas verdadeiras obras-primas que transcendem seus predecessores. Desde complexas tramas emocionais até inovações tecnológicas e narrativas, essas produções mostram que é possível encontrar novas dimensões em histórias conhecidas, reafirmando a força do cinema como meio de contar histórias e provocar reflexões. Com isso, o debate sobre a superioridade das sequências em relação aos seus originais continua, enriquecendo a experiência do espectador e desafiando cineastas a sempre impulsionar suas narrativas para novos patamares. Interessante também o diálogo com outros dois filmes que ganharam sequência e que, eu, na posição de espectador que os conhecem, concordo profundamente com as escolhas selecionadas. Antes do Pôr do Sol, dirigido por Richard Linklater, se destaca como uma obra-prima que continua e eleva a narrativa estabelecida em Antes do Amanhecer, de 1995.

Com o reencontro de Jesse, interpretado por Ethan Hawke, e Céline, vivida por Julie Delpy, o filme se passa em Paris nove anos após o primeiro encontro romântico do casal. O que torna essa sequência tão notável é a química indiscutível entre os protagonistas, que resulta em diálogos autênticos e emocionantes, reforçando a conexão entre as personagens. Linklater, que assina o roteiro com Hawke e Delpy, foi elogiado por sua direção sensível e por permitir que os personagens evoluíssem de maneira natural, fazendo com que Antes do Pôr do Sol se tornasse um dos filmes mais aclamados da década de 2000, merecendo um lugar de destaque nas listas de melhores filmes. E, para encerrarmos os casos de sucesso, temos Batman: O Cavaleiro das Trevas, lançado em 2008 e dirigido por Christopher Nolan, narrativa que exemplifica como uma sequência pode não só superar seu predecessor, Batman Begins, mas também redefinir o gênero de super-heróis. A aclamada atuação de Heath Ledger como o Coringa se tornou lendária, ganhando um Oscar póstumo de Melhor Ator. A complexidade narrativa do filme, que aprofunda temas de moralidade, caos e a luta entre bem e mal, guia o espectador por uma experiência intensa e reflexiva. A transformação de Gotham City em um cenário sombrio e realista, aliada à tensão criada pelo confronto entre Batman e seu arqui-inimigo, posiciona O Cavaleiro das Trevas como um marco não apenas no universo dos super-heróis, mas também na história do cinema.

O cinema é uma forma de arte que, ao longo das décadas, se tornou um poderoso meio de contar histórias e transmitir emoções. No entanto, em meio a obras-primas, existem sequências cinematográficas que frequentemente são vistas como uma fraqueza ou uma tentativa de caça-níqueis, gerando a pergunta: por que algumas sequências são consideradas “amaldiçoadas” e não conseguem superar seus “originais”? Este fenômeno pode ser analisado a partir de diversos ângulos, incluindo fatores como expectativas do público, desenvolvimento de personagens, temas abordados e a influência do marketing na indústria cinematográfica. Um dos principais fatores que contribuem para a percepção negativa das sequências é a expectativa do público. Muitas vezes, as primeiras partes de uma franquia se tornam clássicas, definindo padrões de qualidade e criando um elo emocional forte com o espectador. Quando uma sequência é anunciada, é natural que as expectativas sejam elevadas, uma vez que o público espera reviver a mesma sensação de encantamento e profundidade que experimentou com o original. Quando as sequências não conseguem atingir esse nível, a decepção se instala, levando o público a rotulá-las como fracassos ou meras tentativas de lucro. Ilustrações? O Mundo Perdido: Jurassic Park, Dragão Vermelho, Eu Ainda Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, dentre tantos outros.

É importante ressaltar que o desenvolvimento de personagens muitas vezes desempenha um papel crucial na avaliação de sequências. Nos filmes que são ponto de partida, algumas figuras ficcionais são introduzidas com características profundas e arcos narrativos significativos. No entanto, em algumas sequências, os roteiristas muitas vezes se concentram em reverter esses personagens para o que os tornava atraentes inicialmente, em vez de avançar suas histórias. Isso pode resultar em personagens que parecem unidimensionais ou são levados a situações absurdas. Outra coisa que não podemos deixar de lado: os temas abordados em uma sequência também podem contribuir para sua má recepção. Sequências que tentam replicar a fórmula de sucesso de seu predecessor, em vez de explorar novas narrativas ou expandir o universo em que a história se passa, frequentemente falham em trazer algo novo e relevante. Temos também outro aspecto a ser considerado: o impacto do marketing e como isso pode influenciar a percepção do público. Em algumas situações, sequências são lançadas não por uma verdadeira necessidade criativa, mas exclusivamente por razões financeiras. Essa estratégia pode ser vista nas franquias cinematográficas que parecem depender mais do nome e da nostalgia do que de um conteúdo bem elaborado. Transformar Segundas Intenções em série, recentemente, por exemplo, não é um caso de sequência cinematográfica, mas uma ilustração sobre este processo de capitalizar sobre o apelo nostálgico, mas sem fornecer uma narrativa convincente ou inovadora.

Isso resulta em um produto que, mesmo sendo anunciado como uma sequência muito esperada, falha em entregar substância. A evolução das audiências também desempenha um papel crucial em como sequências são percebidas. O que pode ter funcionado em um contexto cultural específico pode não ressoar da mesma forma anos depois. O público de hoje está mais atento e exige mais inovação e representatividade nos filmes. Sequências que ignoram essa mudança podem rapidamente se tornar irrelevantes. Assim, continuações de filmes que não se adaptam ao tempo ou que falham em entender os novos valores e preferências do público moderno tendem a ser vistas como fadadas ao fracasso. Em 2025, por exemplo, como apresentar um possível retorno de A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13 para alcançar plateias que não sejam os nostálgicos que, assim como eu, vivenciaram tais franquias em suas formações cinéfilas? No geral, enquanto algumas sequências conseguem encontrar o equilíbrio entre homenagear o original e trazer algo novo à mesa, outras iniciativas falham em capturar a essência do que fez o filme original tão amado e transformado em objeto de culto, parte integrante da memória coletiva.

Sendo assim, como destacado por aqui, o cinema nos entrega sequências que, embora esperadas e até desejadas pelo público, podem não corresponder às expectativas criadas pelo seu predecessor. Planejado ainda na época de seu lançamento, Instinto Selvagem 2 só ficou pronto 14 anos depois do clássico moderno que, em 1992, estabeleceu muitas polêmicas e entregou ao público uma produção esteticamente firme e dramaticamente intensa. A continuação, apesar de amada por suas peculiaridades por quem vos escreve, amargou críticas ruins e se tornou uma das ilustrações sobre a maldição acerca da impossibilidade de uma continuação superar a qualidade do seu ponto de partida, chamado de “original” no popular. Dirigida por Michael Caton-Jones, a sequência de 2006 tentou capturar a mesma magia do primeiro filme, mas falhou em vários aspectos, resultando em uma experiência frustrante tanto para críticos quanto para o público. Nesta nova jornada de Catherine Trammell, temos uma mulher fatal que, segundo algumas opiniões, não encontrou um oponente em seu nível para duelar, sendo este um dos principais problemas apontados pelos reclamantes.

Como já delineado por aqui em outros textos, o primeiro Instinto Selvagem, lançado em 1992, se tornou um grande sucesso por sua combinação de suspense, erotismo e uma narrativa provocativa que girava em torno da personagem enigmática Catherine Tramell, um dos principais papeis da carreira de Sharon Stone. Sua química com o personagem do detetive Nick Curran, vivido por Michael Douglas, estava no centro da trama, tornando o filme icônico. O roteirista Joe Eszterhas e o diretor Paul Verhoeven criaram uma obra que não apenas seduziu o público, mas também estabeleceu questões sobre sexualidade, desejo e manipulação, apresentadas em cena pela direção de fotografia brilhante de Jan de Bont. Quando Instinto Selvagem 2 foi anunciado, havia uma expectativa gerada pelo legado de seu antecessor, mas a sequência logo se tornou um exemplo do que acontece quando o estúdio prioriza uma franquia em vez de uma narrativa sólida. A direção ficou a cargo do inexperiente Michael Caton-Jones, que, apesar de ter uma carreira respeitável, não tinha a mesma bagagem de Verhoeven para lidar com temas tão complexos. Outro problema apontado pela crítica era o roteiro.

O texto da sequência não conseguiu capturar a “essência” do que tornava o ponto de partida tão intrigante. A trama gira em torno de Catherine Tramell, novamente interpretada por Sharon Stone, que está em uma nova cidade e se vê envolvida em um novo mistério de assassinato. No entanto, ao invés de criar uma narrativa cativante, o filme optou por soluções previsíveis e diálogos banais, que não conseguiam transmitir a tensão necessária para prender o espectador. Além disso, o filme foi criticado por sua execução fraca e pela falta de profundidade dos personagens. As performances, que deveriam ser o coração da narrativa, acabaram se tornando caricaturas, com Sharon Stone tentando ressuscitar a profundidade emocional de Catherine, mas sem o suporte de roteiros que o justificassem. A química entre os novos coadjuvantes e Stone não conseguiu emular a intensidade sentida anteriormente entre Stone e Douglas. As cenas de sexo, que antes eram intrincadas e carregadas de significado, em Instinto Selvagem 2 parecem forçadas e sem o mesmo impacto emocional. A parte técnica, que inclui o design de produção e a direção de fotografia, por sua vez, não deixou a desejar. Enquanto o primeiro filme é visualmente marcante e utiliza de maneira eficaz a luz e a sombras para criar um clima de mistério, a sequência opta por uma estética muito mais genérica, mas ainda assim envolvente.

Entender todo o desastre em torno desta sequência requer, também, voltar no tempo e analisar as reflexões publicadas pelos críticos que se disponibilizaram diante do processo em questão. Por questões editoriais, selecionei por aqui cinco textos, de profissionais brasileiros, pares de meu campo de atuação, para melhor compreender a recepção desastrosa da continuação de Instinto Selvagem. Vamos nessa? Pablo Villaça, no Cinema em Cena, escreveu que na produção, a personagem de Sharon Stone é apresentada como uma femme fatale superficial e egocêntrica, cuja vulgaridade e comportamento promíscuo rapidamente afastam qualquer interesse romântico. Embora no primeiro filme a personagem possuísse uma vulnerabilidade que a tornava mais interessante, na sequência ela se torna uma caricatura que parece empenhada em manipular e destruir aqueles que se aproximam dela. A transformação da protagonista diminui o apelo do filme, desviando-se do que poderia ser uma complexidade emocional mais atraente. Ele ressalta em uma análise de 2/5, que a narrativa se aprofunda na relação entre a escritora e o psiquiatra Michael Glass, que inicialmente é chamado para avaliá-la, mas rapidamente se vê envolvido em um jogo perigoso que culmina em uma série de assassinatos. O enredo começa de maneira promissora, com Glass demonstrando consciência das manipulações, porém, à medida que a história avança, seu caráter se revela fraco e confuso, tornando-o um mero fantoche nas mãos de outros personagens. A atuação de David Morrissey é criticada por sua falta de carisma, o que contribui para o desinteresse geral pela trama e pelos dilemas emocionais que deveria explorar.

Outra avaliação com mesma nota e desenvolvimento similar é o texto de Marcelo Forlani, do Portal Omelete. Em sua análise hilária, ele aponta que a expectativa em torno de Instinto Selvagem 2 era alta, mas cercada de desconfiança, especialmente devido ao impacto do antecessor, que consagrou Sharon Stone como uma das mulheres mais sensuais do cinema com sua icônica cena da cruzada de pernas. O thriller erótico de quase 15 anos atrás era repleto de reviravoltas e instigava o público ao criar uma atmosfera de desconfiança sobre os personagens. No entanto, a sequência parece mais uma refilmagem do que uma continuação, repetindo fórmulas já conhecidas, como a dinâmica entre a personagem de Stone e o novo protagonista, Dr. Michael Glass, substituto do detetive vivido por Michael Douglas. A mudança de cenário para Londres não é bem aproveitada, e o charme e a atuação de Morrissey não se comparam a seus predecessores. Embora Sharon Stone mantenha sua sensualidade aos 48 anos, a promessa de maior erotismo na sequência resulta insatisfatória, não ultrapassando o que foi apresentado no filme original. A obra acaba por parecer quase “virginal” em comparação com outras produções contemporâneas. Stone denunciou cortes em cenas mais provocantes, mas essa controvérsia remete a outra disputa sobre sua imagem em 1992, onde se questiona a linha entre a atuação e a exposição. Assim como a vida de Catherine Tramell, o filme deixa uma atmosfera de incerteza sobre o que realmente se passa, dificultando a distinção entre a ficção e a realidade das relações de poder apresentadas. Insatisfeito, o crítico delineou que o filme “ficou devendo” muito.

Thiago Sampaio, no site Cinema com Rapadura, analisa o filme e fornece nota 5/10. Em sua excelente reflexão, o autor destaca que a atual escassez de criatividade na indústria cinematográfica é evidente, refletida no número crescente de continuações, refilmagens e adaptações nos últimos anos. Instinto Selvagem 2, que traz Sharon Stone de volta ao seu papel icônico 14 anos após o sucesso original, se junta a essa lista. Apesar dos desafios de produção enfrentados, incluindo litígios e desistências de outros atores, o resultado final não recoloca Stone como uma estrela relevante no cinema. A ideia de que “um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar” se comprova, pois a continuação não chega à mesma intensidade do filme original. Para Sampaio, a trama do novo filme gira em torno de Catherine Tramell, que se muda para Londres e se envolve na investigação de uma morte misteriosa, fazendo com que o psiquiatra Michael Glass, interpretado por David Morrissey, se sinta atraído por ela. Apesar da tentativa dos produtores de vender o filme como um thriller erótico, o resultado é decepcionante: são apenas duas breves cenas de sexo em vez do erotismo marcante que fez o original memorável. Embora a história inicial capte a atenção com seu mistério, o roteiro rapidamente sucumbe a clichês do gênero, falhando em manter o interesse do espectador ao longo do filme. Portanto, Instinto Selvagem 2 acaba sendo uma produção que não consegue honrar o legado do original, deixando no ar um sentimento de frustração e de oportunidade perdida.

Já na Folha de São Paulo, a crítica é mais rigorosa, fornecendo uma estrela para a sequência, reforçando o título aqui empregado sobre a “maldição das sequências cinematográficas”. Em sua escrita, Pedro Butcher diz que Instinto Selvagem é reconhecido como um marco do cinema dos anos 90, capturando a paranoia sexual e a incerteza da época pós-Aids, e se destacando como uma das últimas grandes produções com classificação restrita. O filme de Paul Verhoeven explorou temas provocativos com um humor mordaz, desafiando normas sociais e cinematográficas. Em contraste, Instinto Selvagem 2 se apresenta como uma continuação desfalcada que se afasta da ousadia do original, limitando-se a explorar a reputação da marca e de Sharon Stone, sem trazer a mesma ironia. O filme não corresponde ao contexto contemporâneo de maneira relevante, com Stone projetando uma imagem quase artificial, que apela mais à nostalgia do que ao conteúdo provocativo. Embora a sequência careça da intensidade e do erotismo que caracterizavam o primeiro filme, ainda existem alguns momentos de diversão, em grande parte devido ao protagonista masculino, Dr. Michael Glass. Para o crítico, sua atuação inexpressiva e a construção de seu personagem como um dos mais ingênuos do cinema policial geram situações cômicas inesperadas. A narrativa tenta navegar por reviravoltas convencionais, mas frequentemente recai em clichês do gênero, como falsas ambiguidades e reviravoltas previsíveis, sem conseguir surpreender o público. Assim, a sequência se torna uma sombra do original, uma tentativa de capitalizar sobre o legado de Instinto Selvagem sem conseguir relevância ou profundidade que lhe assegurem dignidade cinematográfica.

E, por fim, em seu lançamento em DVD aqui no Brasil, o crítico Rubens Ewald Filho, em sua coluna para o Portal UOL, delineia que a sequência, na época disponibilizada no formato de mídia física numa “versão sem cortes” com apenas dois minutos a mais, é considerado um grande fracasso, especialmente após o sucesso monumental do primeiro filme em 1992, dirigido por Paul Verhoeven. Desde então, Sharon Stone, ciente do valor de seu icônico papel como Catherine Tramell, lutou por uma continuação, que finalmente se concretizou em 2006, após a falência da produtora original. No entanto, o filme foi amplamente criticado e arrecadou apenas cerca de US$ 6 milhões, em contraste com seu exorbitante custo de US$ 70 milhões. A falta de momentos ousados de erotismo, como a famosa cena da cruzada de pernas, bem como a percepção de que Stone estava excessivamente magra, foram questões (bizarras) que contribuíram para a recepção negativa. Para o crítico, na nova trama, Catherine Tramell se estabelece em Londres e menciona seu passado com um policial de San Francisco. O filme inicia-se com uma cena gratuita e controversa, onde ela dirige enquanto é masturbada por um jogador de futebol, resultando em um acidente fatal. O psiquiatra Michael Glass, interpretado por David Morrissey, é chamado para avaliar sua saúde mental e, ao longo do filme, acaba sendo seduzido por ela. Embora o enredo apresente alguns desvios eróticos, a execução falha em ser convincente em diversos momentos. Catherine permanece como uma personagem intrigante, mas sua frieza e cinismo na entrega de diálogos não conseguem replicar a intensidade do original, tornando-se mais uma repetição de uma fórmula já desgastada, sem o mesmo tom provocativo.

Que é amaldiçoado, isso nós não temos dúvidas, mas diante da sequência, caro leitor, você concorda: Instinto Selvagem 2 é realmente um amargo pesadelo dramático diante do antecessor?

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais