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Lista | Succession – 4ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Dez obras-primas dolorosamente ranqueadas.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers.

Durante 10 semanas, assisti, estupefato, o que acabou sendo a melhor temporada isolada de série de TV em minha vida. Comentei cada um dos episódios ao longo desse tempo, recebendo o sempre maravilhoso feedback de vocês, caríssimos leitores. Como ainda tinha o que falar, resolvi, antes de fazer o tradicional ranking de episódios, nosso padrão para qualquer série que acompanhamos semanalmente, escrever e publicar uma crítica dedicada completa do quarto e último ano da série.

No entanto, a hora do ranking inevitavelmente chegou e, como já esperava, a tarefa foi basicamente impossível. Com exceção do primeiro e último lugares – e talvez do penúltimo – o restante poderia sofrer alterações radicais de lugares em minha cabeça sem que o resultado final fosse afetado. Aliás, muito provavelmente se eu tentar fazer esse ranking novamente em alguns dias, ele será diferente do terceiro ao oitavo lugares.

Portanto, fica aqui o desafio para que vocês mandem seus próprios rankings dos 10 episódios da temporada para compararmos anotações lá nos comentários! Vamos lá?

XXXXXXXXXXX

10º Lugar:
Living+

4X06

Na comparação – e apenas assim – com os demais episódios da derradeira temporada de SuccessionLiving+ mostra de leve e pela primeira vez o problema de se retirar Logan Roy prematuramente da história. Continuo achando um ato de extrema e bem-vinda ousadia por parte de Jesse Armstrong e Connor’s Wedding continua sendo um dos melhores episódios já feitos na História da Televisão, mas a grande e esperta jogada do showrunner tinha o óbvio ônus de dificultar o que viria pela frente. Honeymoon States veio para mostrar que a série sem o patriarca não perderia qualidade e Kill List, com sua radical mudança de ares e foco em Lukas Matsson, deixou evidente que Armstrong tinha um plano sólido.

9º Lugar:
Tailgate Party

4X07

Não é lá uma metáfora muito sutil, e isso me desaponta um pouco, devo confessar, assim como me desaponta a continuação da história do “vende não vende” entre Waystar-Royco e GoJo, mas, diferente do episódio anterior, em que essa repetição temática parecia uma forma de enrolar o desfecho da série, aqui o assunto não só evolui a passos largos, como, de certa forma, torna-se matéria subsidiária diante do jogo de forças políticas que vemos se desenrolar ao longo da festa que deixa evidente a relação promíscua entre a grande mídia e a política. E não, não vou aqui restringir-me ao que Jesse Armstrong faz em primeiro plano, que é emular a conexão da Fox News com a eleição de Donald Trump nos EUA, pois isso é mais do que óbvio e vem sendo construído desde o início da série. Quando falo da grande mídia e da política, não quero me limitar a esse momento da história recente dos EUA, pois isso não só não aconteceu apenas essa vez, como não está circunscrito aos Estados Unidos. Trata-se de um fenômeno mundial desde sempre e o valor do roteiro de Will Tracy é justamente conseguir resumir essa complexa e suja relação de maneira tão eficiente, mesmo considerando o turbilhão de outras questões que ele precisa abordar.

8º Lugar:
Kill List

4X05

Foi até um pouco desnorteador. Marcando a metade da derradeira temporada de SuccessionKill List é o primeiro episódio a nos transportar para uma ambientação completamente diferente das quatro anteriores, mais fechadas e urbanas, trocando-as por verdejantes, chuvosas e nevadas paisagens na Noruega, com direito a cachoeiras, lagos, fiordes e teleféricos realmente filmados em locação no país escandinavo, fazendo as vezes do deslumbrantemente imoderado retiro corporativo da GoJo de Lukas Matsson. É para lá que os Roys e uma enorme entourage vão para, em um primeiro momento, selar a venda da Waystar-Royco e para Matsson e equipe entenderem com quem estão lidando e quem constará ou não da “lista de morte” do título.

7º Lugar:
The Munsters

4X01

Em outras palavras, no mundo extremamente endinheirado que os Roys vivem, não há nenhum semblante de felicidade, nada que se assemelhe a menos do que uma batalha campal em que o dinheiro é a arma mais poderosa ou, talvez, a única verdadeira arma. E o mais interessante é notar, quase que como uma antítese do que eu acabei de afirmar, o quanto nesse patamar o dinheiro é irrelevante, é algo que não faz diferença, algo que fica comicamente claro quando a noiva de Connor Roy pergunta para ele se, mesmo depois de ele gastar mais 100 milhões de dólares em sua campanha presidencial só para preservar seus míseros 1% de votos de forma que ele possa ser “mantido na conversa”, ele continuará rico, ao que ele responde quase rindo na linha de “é óbvio que sim”.

6º Lugar:
America Decides

4X08

Sei que o sistema eleitoral dos Estados Unidos é complexo, mas é fascinante notar como o diretor navega bem, desta vez em ambiente fechado, pelo frenesi causado pelas decisões que têm que ser tomadas de minuto a minuto na ATN e pelo nada didático, mas incrivelmente elucidativo – e isso não é uma contradição em termos – do próprio showrunner da série que, aliás, escreveu também os textos dos dois episódios finais. Entre contagem de votos por estados-chave, atos terroristas enevoados (ma non troppo, claro), pressões dos candidatos principais, interferência do candidato independente e toda as linhas narrativas da série em franca convergência, o roteiro de America Decides é outra aula de como se fazer uma hora irretocável de televisão. Não há nada fora de lugar, não há uma palavra a mais ou a menos e, em meio a isso tudo, a câmera comandada por Parekh trafega daquela maneira nervosa que é marca da série, mas sempre abrindo espaço para algo que vem ficando cada vez mais evidente desde que o monstruoso Brian Cox saiu de Succession no inesquecível Connor’s Wedding: a impressionante qualidade dramática do restante do elenco, notadamente, claro, Jeremy StrongSarah SnookKieran Culkin e Alan Ruck no papel dos quatro Roys, além de Matthew Macfadyen como Tom Wambsgans e Nicholas Braun como Greg Hirsch.

5º Lugar:
Church and State

4X09

Mas deixe-me chegar ao ponto que queria chegar quando decidir começar pelas cenas que mais me marcaram: Church and State, mais do que talvez qualquer outro episódio da série, mostrou que os personagens de Sucession não caminham em apenas uma direção. Não há uma evolução que poderíamos chamar de “clássica” deles, algo comumente esperado em filmes e séries. A gangorra emocional oscila de verdade ao longo da história e, se pensarmos bem, emula a realidade. E não falo, aqui, da realidade do exclusivíssimo recorte socioeconômico que a série aborda, mas sim algo bem mais amplo, aplicável a todos nós, seremos humanos normais, em nosso cotidiano. Nós hesitamos, nós paramos para pensar em meio a conversas, nós mudamos de opinião de uma hora para outra, nós nos irritamos com coisas importantes da mesma forma que nos irritamos com coisa prosaicas, nós choramos sem entender bem o porquê e vemos beleza em situações que outros não enxergam da mesma forma. O ser humano é naturalmente inconstante e volátil e essas características não devem ser vistas apenas como negativas, pois há muito valor nelas.

4º Lugar:
With Open Eyes

4X10

Succession acabou exatamente como tinha que acabar, ou seja, com nenhum Roy sucedendo Logan, como o patriarca verdadeiramente queria. Não havia nenhum outro final possível para a obra-prima televisiva absoluta que é a quarta e última temporada dessa inebriante criação de Jesse Armstrong. Kendall, Siobhan e Roman, desesperados não por dinheiro e nem mesmo por poder, mas sim em suceder a gigantesca e onipresente figura do pai deles, precisavam ter esse sonho, que é obviamente fruto de uma percepção distorcida da realidade, puxado violentamente sob seus pés, deixando-os zonzos, perdidos, com Shiv submissa ao agora todo-poderoso marido (e marionete de Lukas), Ken contemplando o suicídio ou pelo menos o fim de seu propósito no mundo e Rome bebendo em um bar, algo que, olhando positivamente pelo menos para ele, pode significar que ele está finalmente livre.

3º Lugar:
Honeymoon States

4X04

O que o showrunner faz, sem poder contar com a presença imbatível e magnética do Logan Roy de Brian Cox é fazer de sua ausência uma das presenças mais sentidas e mais poderosas que a televisão já (não) mostrou. Tudo gira ao redor de Logan Roy, o que é natural quando estamos, na prática, no dia seguinte de sua morte, mas que é amplificado sobremaneira pela forma como o roteiro que Armstrong co-escreveu com Lucy Prebble trabalha cada núcleo e a maneira de cada um de lidar com a perda, sempre transformando-a em algo mais – ou menos, dependendo de como olharmos – e constantemente relacionado com dinheiro. Peguem Connor como um exemplo simples, mas doloroso, disso em sua conversa breve com Marcia em que ele acerta a compra do gigantesco apartamento do pai por 63 milhões de dólares, o que leva Willa, mais para a frente, já discutir que modificações faria no imóvel. Por mais que detestássemos Logan Roy, não é ainda mais detestável ver seu filho mais velho, aquele que, em Reherseal, disse que aprendeu a viver sem amor, não esperar nem o corpo de seu pai esfriar para regatear o preço de onde ele morava com uma ex-exposa que, por sua vez, já tinha o preço na ponta da língua?

2º Lugar:
Rehearsal

4X02

E, em meio a esse diálogo repleto de culpa, vingança, tino comercial, desprezo, talvez Connor Roy tenha tido seu momento mais marcante, com Alan Ruck, de quem eu reconheço que falo relativamente pouco, uma inegável injustiça, simplesmente arrasando em seu papel. Ao dizer que o “bom de ter uma família que não te ama é que você aprende a viver sem amor”, ele demonstra que erigiu – ou acha que erigiu – uma barreira emocional que lhe permite transitar naquele meio sem ser atingindo, algo que seus irmãos, sempre carentes de amor, não conseguem como ele também deixa evidente em seu monólogo. Em uma série que faz de tudo para detestarmos todos os seus personagens, Connor é alguém com quem uma conexão pode ser estabelecida não só pela clareza de seu raciocínio, como também pela melancólica e torturada força que ele faz para parecer aquilo que ele diz que é, um homem que não precisa de amor, enquanto que toda sua postura que gravita ao redor disso, especialmente em relação à Willa, indica outra coisa, como bem sabemos.

1º Lugar:
Connor’s Wedding

4X03

A morte de Logan Roy não deveria ser nenhuma surpresa. A série começou com sua quase-morte que foi todo o pontapé inicial para a sucessão no conglomerado Waystar-Royco e, claro, toda a razão de ser da série. Logan passou também maus bocados e deu um baita susto em Ken, em Lion in the Meadow, logo antes da metade da temporada anterior, durante um passeio pela idílica propriedade de Josh Aaronson. Sua morte era esperada, portanto, quase que como um espectro sombrio flutuando em proximidade ao personagem. Mesmo assim, o que o showrunner Jesse Armstrong faz em Connor’s Wedding não só é completamente inesperado, como é executado com tamanha ousadia e perfeição que eu tenho dificuldades de verbalizar o que senti. Mas eu acho que o resumo seria algo assim: este episódio não só é o melhor da série até agora, como é um dos melhores episódios isolados de série que eu já assisti em minha vida e olha que eu já assisti talvez a mais séries do que o médico recomendaria (e sim, se eu pudesse colocar 10 HALs aqui em cima na avaliação, eu colocaria).

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