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Crítica | Agents of S.H.I.E.L.D. – 7ª Temporada

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aquias críticas de toda a série e, aquide todo o Universo Cinematográfico Marvel.

Guardadas as devidas proporções, a derradeira temporada de Agents of S.H.I.E.L.D. significou para a série aquilo que Vingadores: Ultimato significou para o Universo Cinematográfico Marvel: não só um fim digno, mas também – e talvez principalmente – uma bela homenagem ao que veio antes e aos fãs que acompanharam tudo diligentemente. Se levarmos em consideração os percalços por quais a série passou ao longo de seus sete anos, com um começo claudicante que afastou muita gente, ameaças anuais de cancelamento e sua inexplicável conversão em basicamente chacota de redes de conversa quando se fala em séries baseadas em quadrinhos, essa reverência e carinho dos showrunners Jed Whedon, Maurissa Tancharoen e Jeffrey Bell torna-se ainda mais relevante e surpreendente.

Partindo da ponta solta da mediana 6ª temporada – a ameaça dos Chronicoms – a temporada final esticou esse fiapo de história com o melhor artifício possível da ficção científica: a viagem no tempo. Mas no lugar de apenas usá-lo de maneira burocrática e pouco inventiva, a ideia foi levar a equipe por um passeio pelas décadas passadas do UCM, criando, até o oitavo episódio, mini-arcos de dois episódios cada um que abordaram os anos 30, 50, 70 e 80 que, aos poucos, foram não só desenvolvendo a narrativa dos seres espaciais robóticos, como, também, fazendo nascer a ameaça de Nathaniel Malick, com os cinco episódios seguintes – que temporalmente permaneceram nos anos 80, mas não fizeram uso efetivo das características da década, pelo que os desconsidero quando falo dos mini-arcos – sendo utilizados para efetivamente lidar com os vilões e encerrar a saga.

Essa escolha inicial de mini-arcos por quatro décadas foi incrivelmente inspirada por si só, mas o que realmente a tirou do lugar comum foi o cuidado absurdo com a produção. Essa minha afirmação fica bem exemplificada já no primeiro deles, o arco dos Anos 30, que traz de volta Patton Oswalt como Ernest “Hazard” Koenig, antepassado dos gêmeos Koenigs que pontilharam a série trazendo divertidos alívios cômicos. Vê-se logo de início que a direção de arte esmerou-se em recriar a década com figurinos perfeitos para cada personagem, além do uso de cenários que imediatamente permitiram a imersão do espectador. E os dois roteiros fizeram exemplar uso de eventos históricos que contextualizaram a aventura, sejam os efeitos da Grande Depressão, a Lei Seca em vigor ou a presença de ninguém menos do que o então governador de Nova York Franklin D. Roosevelt para desviar nossa atenção sobre o plano dos Chronicoms, além de lidar com praticamente a gênese do UCM: o soro do super-soldado.

Mas esse foi apenas o começo do show, pois já no arco dos Anos 50 a produção mostrou que queria ir além da contextualização histórica em arcos uniformes. Bem ao contrário, a década de 50 foi tratada em dois episódios singulares, o primeiro – Alien Commies from the Future – abordando a Guerra Fria e a paranoia da espionagem soviética conforme a indústria cinematográfica da época as alegorizou, ou seja, por intermédio do uso de alienígenas. E, como se isso não bastasse, houve ainda a preocupação em se fazer menções expressas a Capitão América: O Soldado Invernal e um crossover com a finada série Agent Carter, não só com Jemma sensacionalmente disfarçando-se de Peggy Carter, com trazendo o simpático Daniel Sousa (Enver Gjokaj) de volta e não só como um personagem descartável, mas sim como parte da equipe a partir deste ponto. Mas a cereja no bolo da década foi mesmo Out of the Past, episódio que canaliza à perfeição os filmes noir, com fotografia em preto e branco, narração em off e pegando emprestado elementos do clássico Crepúsculo dos Deuses para formar sua base narrativa.

Quando a década de 70 chegou no mini-arco seguinte, as conexões com o UCM só se intensificam, já que A Trout in the Milk pode ser considerado como o Capitão América: O Soldado Invernal da série, uma perfeita homenagem já que foi a partir do crossover com esse filme que Agents of S.H.I.E.L.D. realmente passou a decolar lá em sua 1ª temporada. Por outro lado, Adapt or Die pode ser considerado como o primeiro episódio da temporada a destoar dos demais, com uma progressão tumultuada, mesmo que ele tenha sido o pontapé inicial para o arco de Nathaniel Malick e mesmo considerando os eventos trágicos ao redor de Mack, com a morte de seus pais.

Os Anos 80 foi a última década a ser abordada com tal, com um mini-arco que começa espetacularmente com The Totally Excellent Adventures of Mack and The D, uma hilária homenagem aos filmes trash da época focada, como o título deixa bem claro, em Mack e Deke abandonados, cada um tendo que lidar com as consequências do que veio antes. Mack, deprimido por mais uma tragédia, passa anos deixando só a barba crescer e montando carrinhos, com Deke, claro, tornando-se um astro do rock na base do roubo de músicas alheias e, ao mesmo tempo, reconstruindo a S.H.I.E.L.D. com as figuras mais surreais possíveis como agentes. No entanto, assim como no arco anterior, o segundo episódio, After, Before, que retorna a After Life antes da desilusão de Jiaying e com a revelação da existência de Kora, meia-irmã inumana de Daisy e que, junto com Nathaniel Malick, torna-se peça chave para o encerramento da série, desaponta em comparação com o altíssimo nível do material até aquele momento.

Mas qualquer problema com a temporada é imediatamente dissipado com As I Have Always Been, primeiro trabalho de direção de Elizabeth Henstridge que usa o loop temporal à la Feitiço do Tempo para entregar um episódio repleto de ação e tensão, com tempo ainda para converter Daisy e Daniel em casal – mesmo que ele não tenha consciência disso logo no loop seguinte – e, principalmente, servir de despedida para Enoch, personagem de  Joel Stoffer que, apesar de razoavelmente recente, já havia conquistado corações. A partir desse ponto na temporada, o foco passou a ser na resolução do conflito com os Chronicoms e Nathaniel Malick, além da resolução do sumiço de Fitz, já que o ator, quando a série foi renovada, já tinha compromissos e não pode participar das filmagens. Com isso, Stolen, Brand New Day e The End is at Hand vieram para preencher lacunas, lidar com pequenos dramas e preparar a série toda para seu encerramento.

E, quando ele veio, na forma de What We’re Fighting For, ele veio consciente de que o importante, a essa altura do campeonato, era entregar uma resolução que satisfizesse os fãs e que rendesse homenagens ao núcleo central de personagens que passaram por grandes evoluções ao longo dos anos. Com isso, o roteiro de Jed Whedon criou quase que uma bolha, transformando o episódio quase que em uma temporada em 43 minutos. O retorno efetivo de Fitz foi usado como catalisador para um fim extremamente corrido e cheio de conveniências, mas que não só retornava ao final da 6ª temporada, como também reintroduzida Piper e Flint e entregava, com muito carinho, uma resolução perfeita para cada personagem, abrindo as portas, para – um dia, talvez, ainda que muito improvável – que eles retornem em spin-offs. Não foi tecnicamente o melhor episódio do mundo, mas ele foi sim, em termos do que a temporada se propunha, ou seja, ser uma homenagem a esses sete anos de história, tudo aquilo que ele poderia ser.

Agents of S.H.I.E.L.D. acabou, mas a série deixa uma sensação gostosa de missão cumprida, de uma jornada de crescimento e amadurecimento que poucas séries baseadas em quadrinhos souberam oferecer. A 7ª temporada veio fechar com chave de ouro a saga de uma série relegada a segundo plano por todos, menos por seus showrunners e por aqueles que teimaram e a acompanharam religiosamente até o fim. Um feito e tanto!

P.s.: Em uma nota pessoal de encerramento que, prometo, será curta, tenho que dizer que Agents of S.H.I.E.L.D. não só é uma série que venho acompanhando para escrever críticas desde praticamente o começo do Plano Crítico, como é sem dúvida uma das séries que mais me permitiu ter contato intenso com meus leitores. Em resumo: graças a vocês, caros leitores, a experiência de escrever essas críticas foi a mais gratificante que tive até agora no site! Obrigado!

Agents of S.H.I.E.L.D. – 7ª Temporada (EUA, 27 de maio a 12 de agosto de 2020)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen, Jeffrey Bell
Direção: Kevin Tancharoen, Eric Laneuville, Nina Lopez-Corrado, Garry A. Brown, Stan Brooks, Aprill Winney, Jesse Bochco, Eli Gonda, Elizabeth Henstridge, Keith Potter, Chris Cheramie
Roteiro: George Kitson, Craig Titley, Nora Zuckerman, Lilla Zuckerman, Mark Leitner, Iden Baghdadchi, DJ Doyle, Brent Fletcher, James C. Oliver, Sharla Oliver, Drew Z. Greenberg, Chris Freyer, Jeffrey Bell, Jed Whedon
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wen, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Natalia Cordova-Buckley, Jeff Ward, Enver Gjokaj, Iain De Caestecker, Joel Stoffer, Tobias Jelinek, Darren Barnet, Tamara Taylor, Thomas E. Sullivan, Dianne Doan, Patton Oswalt, Cameron Palatas, Patrick Warburton, Dichen Lachman, Fin Argus, James Paxton, Rachele Schank, Briana Venskus, Maximilian Osinski, Coy Stewart
Duração: 560 min. aprox. (13 episódios)

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