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Crítica | The Office (US) – 7ª Temporada

Uma preciosa parte da comédia de The Office é retirada com uma bela transição.

por Davi Lima
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The Office


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Como foi dito na crítica da 6ª Temporada, o final sem cara de final como gancho para a 7ª Temporada era o fio solto do drama de Michael Scott (Steve Carell), quando ele se sacrifica pela empresa Sabre e recebe uma esperança de reencontrar com Holly (Amy Ryan). A importância de a sexta temporada se finalizar assim é por ter finalizado  várias linhas narrativas dramáticas e cômicas dos personagens de The Office, tornando a conversa no avião de Jo (Kathy Bates) e Michael o princípio de uma sétima temporada de despedida para Steve Carell, o nada mais, nada menos que o host da sitcom: Michael Scott.

Tudo que se acompanha ao longo dos episódios é uma preparação muito bem feita e detalhista de como se despedir do centro gravitacional da série mantendo  a sua linguagem característica. Entre testes e resets, a relação de Michael Scott com o escritório já não tem conflito. Por isso, a primeira cold open (a piada de abertura da série, que introduz rapidamente na história do episódio) da temporada é bem representativa do clima familiar, com a lip dub de Nobody but Me, meme de sucesso entre 2009 e 2010. É uma abertura que une todo o escritório na volta do verão. Nesse episódio, chamado Nepotism, o grande conflito é de Michael com seu sobrinho, interpretado por Evan Peters, estagiário que implica com todos os empregados e é descoberto como parente de Michael. Seu ato de advertência, que constrange o garoto em meio aos trabalhadores, sela o início dos sucessivos episódios em que o apresentador vai encerrando as piadas que o conecta aos personagens do escritório.

Em Counseling, Michael e o RH Toby (Paul Lieberstein) desbancam o ódio cômico pulsante que formava a relação entre os dois, com Michael tentando fazer seu castigo passar o tempo, quando Toby consegue extrair desabafos do seu “inimigo”. Em Andy’s Play, a grande decepção do host não conseguir o papel no musical Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet remonta sua frustração com as tentativas negadas de atuação, que se desmancha ao ver os personagens do escritório unidos envolta de Andy (Ed Helms) para parabenizá-lo pela performance  no musical; e em Sex Ed, Michael vai atrás das suas ex-namoradas, com a corretora Carol (Nancy Carell – sim, é a esposa de  Steve Carell), passando por Jan (Melora Hardin), até falar ao telefone com Holly, para perguntar se elas tinham herpes. Mesmo com essa piada, retoma-se o ponto doloroso deixado da quinta temporada, quando Michael se separa de Holly, enquanto na sexta temporada retoma-se o anseio de Michael de realmente ser apenas um personagem – com foi testado no quinto ano, ter sua família e um romance comum, não mais ser o pai dos empregados da Dunder Mifflin em prol de seu sonho americano.

Neste sétimo ano da série, muito da trama e da junção narrativa das piadas sobre os outros personagens do escritório se tornam cada vez mais fantasiosas e à parte do que a temporada engatinha na figura do chefe do escritório se tornar outro personagem, uma verdadeira transição para The Office. A linguagem da série que sempre abria o conflito realista de um falso documentário com resoluções fantasiosas, abre uma grande pausa, tornando Michael Scott (por alguns episódios) mais polido, ressurgindo o velho chefe constrangedor apenas para entregar ao público um episódio por vez, um que ele se mostrasse mais inteligente que Oscar (Oscar Nunez) ao falar sobre a China, tentasse ajudar Ryan no seu negócio falido chamado WUPHF.com e fizesse mais uma loucura de um adulto tentando ser um jovem missionário anglicano para impressionar seus empregados em como ele pode ser importante para a América. Mas nada disso de fato corrobora para um avanço cômico ou para um desenvolvimento, apenas fecha portas e demonstra a proximidade do fim da linha para Michael.

Mediante a essa linha, assim como na sexta temporada, o episódio de Natal define bem o início do ato final. Classy Christmas, dividido em duas partes, é um show à parte, quase dois filmes em um episódio maior. Com os cold opens sendo os momentos mais familiares da temporada, com Jim (John Krasinski) e Pam (Jenna Fischer) ajudando Michael a andar de bicicleta; Jim explicando como Stanley não deve notar as mudanças do escritório; ou todos assistindo a uma abordagem policial quando a perseguição passa pela rua do escritório, os dois episódios reintegram melhor a vibe ordinária do trabalho sendo posta como extraordinária junto com a participação de Michael. Esta também é a parte da temporada em que há o conflito maior: Michael ansiando por Holly voltar ao escritório no lugar de Toby – mesmo ela não estando solteira -, e o escritório reagindo a isso. 

O contrato social que Michael Scott readmitiu com seus empregados se concretizou na quinta temporada, exatamente no ano em que ele saiu da Dunder Mifflin por suas insatisfações com a empresa, especialmente com a chefia de David Wallace (Andy Buckley) ao transferir Holly para a filial de Nashua, após descobrir que ela namorava com Michael. Após o seu retorno, nos últimos episódios, desbancando o chefe temporário Charles Miner (Idris Elba), o último episódio num piquenique promovido pela empresa cravou a conciliação  de Michael não ter Holly em sua vida e Jim e Pam descobrindo que estavam grávidos. 

O showrunner Greg Daniels  concebe com Mindy Kaling no roteiro e Rainn Wilson na direção uma espécie de recapitulação temática de Company Picnic, fazendo o show do Natal elegante que Michael quis para Holly ser um verdadeiro desastre, assim como o show de piadas dos dois personagens no piquenique. Ao mesmo tempo, o romance de Jim e Pam é reafirmado com troca de presentes de Natal entre os dois, que acalma a insegurança de Pam quanto à sua escolha de presente, o reverso do nervosismo/empolgação de Jim ao descobrir a gravidez de Pam duas temporadas antes.

Se no Natal há a paralelização de conflito entre os dois casais, quem ascende como comédia, mesmo sem muita motivação além de sua vingança com Jim, é Dwight (Rainn Wilson). O ator e diretor do episódio, Rainn Wilson, coloca profundidade aterrorizante na tal guerra de bola de neve que Jim inicia em pequena escala. É importante ressaltar esses três fatores fortes na dupla de episódios natalinos, porque a partir deles a sétima temporada abraça o tal ultimato de Holly com seu namorado como contagem regressiva para divorciar Michael da sua família do escritório. 

Michael e Holly se tornam almas gêmeas em The Search e são  julgados pelo excesso de afeto no escritório em PDA, enquanto em Threat Level Midnight, a metalinguagem desajusta a linguagem da série para apresentar a Holly o filme que Michael escreveu durante anos sendo chefe em The Office. Logo, o divorcio vai sendo consentido com mudanças na linguagem e na posição dos personagens, ao ponto de Jim e Dwight se unirem para demitir o imoral Todd Packer (David Koechner), recém contratado por Michael, e Pam se tornando não oficialmente administradora do escritório para fugir das vendas. Garage Sale é o episódio definitivo do consentimento e do casamento sem matrimônio que só a família The Office poderia reproduzir para que Michael noivasse com Holly. Até a “chuva”, o ideal romântico de cinematografia, acontece nesse episódio, quando as velas que cada empregado segura no trajeto de Holly até o anexo do escritório acionam os sprinklers por causa do detector de fumaça, típica piada da série.

A partir desse momento, a narrativa da sitcom volta ao normal. Engata-se o realismo, tornando o novo chefe, chamado Deangelo (Will Ferrell), como representante da despedida factual de Michael. Se torna realista até demais para uma série que durante a sexta temporada e muito do começo da sétima, abraçou a fantasia cômica. O último Dundies é um grande constrangimento perigoso por causa de Deangelo, como uma espécie de Michael Scott sem graça e sem jeito de ser host de programa. Por isso, a saída de Michael em Goodbye, Michael não tem o título do episódio alinhado com Goodbye, Toby da quarta temporada por acaso. Além de ser um episódio muito bem escrito sobre o personagem presentear cada empregado e se despedir sem eles saberem, o humor se torna imersão dramática. 

É como frear um trem que já estava sendo freado, ao mesmo tempo que finge colocar mais carvão na locomotiva para que o espectador preste atenção. Enquanto nós que assistimos à série sabemos que Michael vai embora, o personagem age de maneira mais polida do que já tinha se mostrado ao longo do ano. É a compressão de todas as ideias num episódio só, com o realismo voltando a pertencer aos empregados de The Office quanto mais próximo Scott afasta sua fantasia cômica. Quem adivinha a despedida secreta é Jim. Só que dessa vez sabemos antes dele. Enfim, a trindade host-câmera-casal desune-se como um desatar de um nó bem romantizado e bonito, com Pam abraçando Michael no aeroporto sem o sistema sonoro do falso documentário, quando ele já havia tirado os gravador que ele tinha no corpo.

Esse deveria ser o final de The Office? Esse deveria ser o final da sétima temporada? Greg Daniels chegou muito longe para achar que a comédia de testes e resets que ele conseguiu sustentar por 7 temporadas dependeria exclusivamente de Steve Carell, ou de um protagonista  para manter a linguagem da série. A transição final para se tentar achar novos chefes, potenciais Michaels, ou não Michaels, torna Jim, Gabe (Zach Swoods) e Toby – os avaliadores – o próprio Greg Daniels brincando de escolher atores para substituição de Carell, assim fez Will Ferrell servir de  bode expiatório, quase uma paródia texana de Michael. Isso se assemelha ao epílogo da sexta temporada, com Michael querendo Holly e respondendo pela Sabre seus problemas com as impressoras. Mas dessa vez o gancho é maior, não se resume a um personagem nem fecha dramas, na verdade deixa em aberto quem irá liderar o host do palco da sitcom.

Além disso, a graça de bagunçar toda a linguagem da série para se despedir de Michael, deu possibilidade a Dwight ser gerente por um episódio, crescendo independente de um chefe. O gancho é também um olhar diferenciado, para quem compõe o escritório, como manutenção da boa comédia de situações e como eles são fontes de narrativas. Ainda assim, os dois últimos episódios pairam sobre entrevistas de personagens insignificantes diante dos atores que interpretam: Jim Carrey, James Spader, Ricky Gervais… quem poderia ser o gerente? Muito se olha para fora, mas Greg Daniels foi criando narrativas internas para se perceber quais testes poderia fazer para a oitava temporada. Se até Creed (Creed Bratton) é gerente por um episódio, qual o sinal? Se Andy foi o que conseguiu o romance com Erin e cresceu como personagem, por que não ele? Ou Darryl (Craig Robinson), que se mostrou um personagem mega querido?

A única certeza de The Office para nós é que a série tinha Michael Scott, mas não era Michael Scott; Dwight queria ser gerente, mas sem Michael, para quem ele iria se provar? Sua comédia é um material especial do proletário do escritório; Jim e Pam, por serem os que mais entendiam Scott – sendo nossas janelas para a compreensão do nonsense da série – são uma das almas da sitcom nos desdobramentos do romance a longo prazo. Por fim, e não menos importante, a câmera  nos diz por meio da entrevista de Pam: “SÓ PRECISAM ESCOLHER ALGUÉM”. Um chefe, não um host, necessariamente.

The Office – 7ª Temporada (The Office, EUA, 2010 – 2011)
Criação: Greg Daniels, Ricky Gervais, Stephen Merchant.
Direção: Randall Einhorn, Jeffrey Blitz, Greg Daniels, Paul Lieberstein, Paul Feig, David Rogers, Steve Carell, Charles McDougall, B.J. Novak, Matt Sohn, Mindy Kaling, Rainn Wilson, John Scott, Dean Holland, Alex Hardcastle, Ken Whittingham, Danny Leiner, Carrie Kemper, Michael Spiller, Tucker Gates, Troy Miller.
Roteiro: B.J. Novak, Mindy Kaling, Paul Lieberstein, Justin Spitzer, Aaron Shure, Brent Forrester, Warren Lieberstein, Halsted Sullivan, Charlie Grandy, Daniel Chun, Peter Ocko, Jon Vitti, Steve Hely, Robert Padnick, Amelie Gillette, Greg Daniels.
Elenco: Rainn Wilson, Steve Carell, John Krasinski, Jenna Fischer, Mindy Kaling, Leslie David Baker, Brian Baumgartner, Angela Kinsey, Kate Flannery, Phillys Smith, Creed Bratton, Oscar Nuñez, B.J. Novak, Craig Robinson, Paul Lieberstein, Melora Hardin, Rashida Jones, Ed Helms, Hugh Dane, Zach Woods, Andy Buckley, Kathy Bates, Amy Pietz, Ellie Kemper, Jim Carrey, Ricky Gervais, James Spader, Amy Ryan, Will Arnett, Warren Buffett, Cody Horn, Ray Romano, Will Ferell, Catherine Tate, Taylar Hollomon, David Koechner, Michael Schur, Jack Coleman, Robert R. Shafer
Duração: 23 minutos (em média) cada episódio, com apenas dois tendo mais de 40 minutos.

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