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Lista | Alejandro Jodorowsky – Os Filmes Ranqueados

por Luiz Santiago
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Alejandro Jodorowsky nasceu em Iquique, Chile, em 17 de fevereiro de 1929. Sua infância e adolescência foi marcada por um fascínio em torno do mundo das artes, especialmente circo e mímica. Quando se mudou para Paris, em 1955, foi estudar com Marcel Marceau e dois anos depois de sua chegada à cidade, realizou o primeiro filme: A Gravata. Era o início de uma jornada cinematográfica que, apesar de curta, encontraria seu lugar no panteão dos geniais artesãos do cinema. Jodorowsky também é escritor, dramaturgo e roteirista de quadrinhos, onde também teve, ao lado de Moebius, reconhecimento mundial com sua obra-prima: O Incal.

A presente lista traz todos os filmes do diretor ranqueados, do pior para o melhor. Trata-se de uma lista de classificação qualitativa (portanto, pessoal. Como sempre…), logo, não se avexem em torno das contrariedades. Comentem quais são OS SEUS filmes favoritos do diretor, faça também a sua lista pessoal e vamos trocar impressões sobre as obras! Lembrando que todos os filmes possuem críticas aqui no site, basta clicar no link de cada uma das colocações para acessar os textos.

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10º Lugar: Tusk

Idem, 1980

Ainda é possível salvar algo visual ligado à realidade de abnegação por parte do pai; e o filme ainda ganha muitos pontos pelo bom aproveitamento do local e da construção narrativa em sua primeira hora, mas daí para frente, Tusk se perde e jamais volta para os trilhos, tornando-se o pior e mais estranhamente finalizado longa de Jodorowsky, mesmo que ainda traga uma série de caraterísticas típicas do diretor. Tudo considerado, não devemos taxar a obra como ruim. Mas para o padrão-Jodorowsky, trata-se daquelas realizações medíocres que nos incomoda muito mais do que se viessem de um outro diretor.

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9º Lugar: Psicomagia: A Arte Que Cura

Psychomagic: A Healing Art, 2019

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8º Lugar: O Ladrão do Arco-Íris

The Rainbow Thief, 1990

Mesmo que não consiga sustentar bem a ideia de um “ladrão do arco-íris” — o roteiro se preocupa muito mais em reforçar algo já bem compreendido pelo público, através das andanças de Dima, do que dar atenção à fantasia –, o filme se coloca como o mais acessível de Jodorowsky, uma trama fácil de se entender e consumir, bem dirigida e com uma atmosfera que transita entre indicações oníricas e realidade. É uma pena que o diretor não tenha conseguido imprimir à obra a sua visão mais surreal. Temos um pequeno ensaio disso, na excelente sequência inicial, com o tio Rudolf, mas depois a obra muda consideravelmente de tom. É um bom filme, mas aquém do que poderíamos esperar de Alejandro Jodorowsky, que não por acaso, renegou a obra.

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7º Lugar: Fando e Lis

Fando y Lis, 1968

Mas nem tudo se desvenda em apenas uma investida, ou talvez nem tenhamos exatamente o que decifrar; o grupo que dança no meio dos escombros, as pessoas que tomam banho de lama, a dupla de homens que bebe sangue e diversas outras passagens são tão simbólicas quanto enigmáticas. Mesmo que seja repetitivo ao expor a interdependência de seus protagonistas, e ainda que El Topo e A Montanha Sagrada tenham uma repercussão maior do que Fando e Lis, o primeiro longa do intrigante Alejandro Jodorowsky sobrevive principalmente para os amantes do cinema de imagens, poesias e reflexões.

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6º Lugar: A Gravata

La Cravate, 1957

Considerado perdido por quase 50 anos, uma cópia deste primeiro filme de Jodorowsky foi encontrada em um porão na Alemanha, em 2006, sendo rapidamente restaurado e, um ano depois, lançado em home video, numa compilação especial da obra do artista. Uma pérola há muito tempo escondida de um diretor que desde os seus primeiros passos quebrava o tradicional e olhava os mistérios da existência pelo ângulo mais íntimo e etéreo possível.

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5º Lugar: A Dança da Realidade

La Danza de la Realidad, 2013

A Dança da Realidade é a forma como Alejandro Jodorowsky nos mostra a vida passando e o mundo se transformando pelos olhos de um adolescente, onde muitas coisas são mágicas, surreais, heroicas, místicas, medonhas, impossíveis. Seu encontro com Teósofo (de theosophia, ou “conhecimento de deus”), seus encontros com diversos tipos de pessoas na sociedade, sua passagem traumática como mascote do Corpo de Bombeiros… todas essas fases serviram como impulso para ele querer desconstruir por completo o mundo que o cercava. Seu futuro encontro com a arte, como é na maioria das vezes para pessoas que vêm de meios opressores, seria uma válvula de escape e um jeito que encontraria para mudar, para bagunçar a ordem e a tradição que tanto o massacraram, podaram e lhe impediram de ser quem ele era. Bela e trágica, a dança da realidade para Alejandrito é tal qual a dança realidade para qualquer ser humano. Fazer crescer uma semente nunca é fácil. O fruto que vem depois, já é uma poesia sem fim.

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4º Lugar: Poesia Sem Fim

Poesía sin Fin, 2016

Com pequenas rusgas narrativas — a resolução do arco de Jaime e Sara não é plena — e uns poucos problemas de montagem no meio da fita, especialmente nas cenas do Café Iris, Poesia Sem Fim é uma obra sobre a introdução de um artista àquilo que viria a ser a sua arte. O resultado é belo e tocante de diferentes maneiras, fazendo-nos lembrar de descobertas próprias, de pontos sem retorno, de tomadas de decisão que definiriam quem seríamos no futuro. Como deve ser uma boa e infinita poesia, a película expõe com a devida força a juventude de um artista em um tremendo espetáculo visual, cheio de significados. Alejandro Jodorowsky prova de falar de si mesmo, com fantasia e exageros, é também um bom caminho para fazer cinema de relevância artística e de significados para além de sua própria fonte.

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3º Lugar: El Topo

Idem, 1970

Com planos cada vez mais distanciados, como se estivesse mesmo tornando o protagonista parte de um todo e não mais o individualizado através da câmera, o diretor nos prepara para a despedida de El Topo, purificado pelo fogo e também fazendo o caminho para a morte à la Thích Quảng Ðức. Também como base de todo bom western (mesmo os muito incomuns como este), a finalização desalentada aparece. Mesmo que um ou outro aspecto desse encerramento possa ser lido como algo positivo, ele sempre estará envolto em horror: o extermínio dos mutantes, o extermínio dos habitantes da cidade, o fim da jornada de luz do pistoleiro — manchada e retomada, em seu último ato — e o início de uma nova caminhada para os dois filhos e a mulher, dando, inclusive, a fantástica ideia de ciclo, se pensarmos que a mulher deve morrer em pouco tempo e o homem mais velho deve seguir a cavalo, perambulando pelo deserto com o irmão (e, nessas condições, filho). Uma jornada de iluminação que nunca termina, passando de geração para geração.

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2º Lugar: A Montanha Sagrada

La Montaña Sagrada / The Holy Mountain, 1973

Eu particularmente vejo o filme cambalear um pouco nas cenas de “escalação” da montanha, mas em compensação, o trajeto é pontuado aqui e ali por provações purificadoras visualmente incríveis, uma espécie de “Mestres Pistoleiros do Deserto” que encontramos antes na jornada de El Topo. Aqui, são as últimas fronteiras para a grande revelação que O Alquimista fará para os então libertos e redimidos poderosos. Para o ladrão (O Louco), o resultado final é a manutenção da ilusão, onde a busca precisa acontecer em diversos cenários, dando sequência ao papel de guia representado pelo Alquimista (exatamente como o filho de El Topo). Com a prostituta e o chimpanzé, o ladrão segue a sua vida, apto para habitar a Torre. Já para os poderosos, aqueles que são perigosos demais para continuarem nesse mundo, O Alquimista revela a farsa. Tudo isso que eles viveram era apenas parte de uma ficção. De um filme. Existe uma outra dimensão. A dimensão da realidade. O verdadeiro momento de iluminação onde personagens e espectadores se desconectam da ficção e, estranhando o choque, se veem em suas respectivas realidades. Não é uma conclusão fácil ou confortável, mas torna A Montanha Sagrada uma soberba demonstração sobre como colocar em perspectiva as coisas que nos rodeiam, sejam elas materiais ou espirituais; reais ou não.

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1º Lugar: Santa Sangre

Idem, 1989

Flertando com Psicose (1960) e também com o giallo (não nos esqueçamos que o co-roteirista e também produtor do filme é irmão de Dario Argento, um dos mestres do gênero e para quem Claudio produzira, até ali, longas como Prelúdio Para MatarSuspiria e TenebreSanta Sangre é uma violenta e estilizada viagem por uma mente perturbada. Dessa vez, o encontro consigo mesmo e a busca por algo, em um filme de Jodorowsky, não levou a lugares exatamente místicos, mas o diretor soube brincar muito bem com essa ânsia pelo prazer e pela manutenção de uma mulher forte ao lado de um mirrado, mágico e edípico Orlac traumatizado.

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