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Favoritos do Plano Crítico | Filmes

por Luiz Santiago
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Fazer uma lista de filmes favoritos é sempre uma luta contra si mesmo. Se a lista é grande, existe até alguma consolação, porque nos lembramos de filmes que adoramos e temos quase certeza de que todos estarão lá. Mas… e no caso de uma lista ingrata, com apenas 10 filmes favoritos? Pois é. Foi nesse vespeiro que nos metemos. E essa aqui é com certeza a lista mais pedida dentre todas as LISTAS DE FAVORITOS que publicamos até hoje!

A proposta segue exatamente a mesma da lista anterior: os escolhidos são 10 FAVORITOS e não necessariamente melhores (perceba a diferença, por favor!).

NOTA: Esta é uma versão 2.0 da lista. A primeira publicação aconteceu em 2015, com uma estrutura completamente diferente (para começar, era um TOP 5 e não TOP 10, como agora) e com muita gente diferente na equipe. Hoje, cinco anos depois, trago a versão atualizada e acrescida de novos comentários e indicações! Vocês também vão notar que fiz uma marcação na seção de comentários, separando visualmente as participações feitas pré e pós a publicação desta segunda versão. Não se esqueçam de comentar abaixo e deixar também a sua lista de 10! Divirtam-se!

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Ritter Fan

Quando alguém me pede para listar os cinco, dez, 20, 30 ou 100 melhores filmes que vi na vida, minha resposta é uma só: “não consigo, impossível, esquece”. Já quando me perguntam meus filmes favoritos, fico um pouco mais confortável, pois considero o favoritismo algo muito diferente do que é o “melhor”. Favorito, para mim, é o filme ou filmes que eu levaria para uma ilha deserta caso eu só tivesse uma escolha. No caso, o Luiz Santiago, editor-chefe aqui do site, me deu 10 escolhas e elas estão aqui embaixo, mas não necessariamente na ordem de preferência.

O Império Contra-Ataca

The Empire Strikes Back | Irvin Kershner | ?? 1980

Esse é o único filme considerado universalmente excelente (sim, universalmente, pois se você não acha excelente, não quero te conhecer e não vou te ajudar caso esteja caindo de um precipício depois de descobrir que o cara mascarado é seu pai…) da minha lista. É uma daquelas obras que me embasbacou quando vi pela primeira vez no cinema – aterrorizado por minha prima mais velha, que vilanescamente me disse, logo antes da sessão, que o Império “ganhava”, deixando-me com muito medo – e continua me embasbacando toda vez que o assisto novamente, mesmo depois de todos esses anos de indústria vital.
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Grease 2 – Os Tempos da Brilhantina Voltaram

Grease 2 | Patricia Birch | ?? 1982

Você leu certo: é Grease 2, não o primeiro. Esse é com a Michelle Pfeiffer, em um de seus primeiro longas. Eu alugava essa fita – VHS, aquela coisa retangular Neandertal que continha filmes em baixa definição para serem exibidos em televisões quadradas com tubo de imagem, por intermédio de uma máquina pesada com cabeçotes – na locadora mais próxima e via e revia seguidamente com meus amigos até gastar. Sou até hoje apaixonado por Pfeiffer – meu pacto antenupcial tem uma cláusula excepcionando eventual adultério com ela – e sei de cor cada música, cada fala e cada passo de dança. Ops, não, passo de dança eu não sei não… Ou será que sei?
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Stallone Cobra

Cobra | George P. Cosmatos | ?? 1986

Lembro-me muito bem da comoção em torno da estreia desse filme, por sua violência gratuita. Lembro-me de correr para o cinema com os amigos para ver a versão sem cortes, antes que os censores tirassem o filme dos cinemas por causa da reclamação de gente imbecil que nem mesmo havia assistido ao ponto alto da carreira oitentista de Stallone. Lembro-me do tumulto na porta de meu cinema de rua favorito para comprar os ingressos que só foram adquiridos graças aos atos heroicos de um amigo que se atirou no meio da turba e saiu de lá suado, com o óculos todo torto, cabelo bagunçado e camisa completamente amassada, mas com um sorriso no rosto e uma penca de ingressos atafulhados em seu punho cerrado. Lembro-me da sensação indescritível de ver – sim! – violência gratuita escorrendo pelas telas em um roteiro chulo e chinfrim que me fez vibrar e que ainda me faz vibrar toda vez que vejo Cobretti arrancar a camisa do chicano folgado, cortar a pizza gelada com tesoura e sem tirar a luva, exterminar dezenas de marginais com tiros intermináveis de metralhadora, dizer que o bandido é a “doença” e que ele é a “cura” e, claro, delicadamente “enganchar” o vilão ao poético final em direção à cremação… Sentiu-me salivando agora? Pois estou…
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O Exterminador do Futuro

Terminator | James Cameron | ?? 1984

Eu já vi esse filme mais de 250 vezes. Provavelmente mais. Foi minha primeira fita VHS (se não souber o que é isso, leia comentário em Grease 2) comprada e meu primeiro choque cinematográfico fora Guerra nas Estrelas. Tem a violência que um jovem nos anos 80 precisava envolvida em uma fascinante história de viagem no tempo cheia de paradoxos e impossibilidades de fundir a mente. Tenho a nítida lembrança de ter forçado absolutamente todos os meus parentes e todos os meus amigos a assistir pelo menos uma vez esse filme ao meu lado, com direito a uma incessante “trilha de comentários” minha. E o pior é que nunca cobrei por esse prazer inenarrável!
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Pulp Fiction: Tempo de Violência

Pulp Fiction | Quentin Tarantino | ?? 1994

Não fazia menor ideia quem era Quentin Tarantino nem sobre o que era esse filme, mas arrastei minha então namorada para ver Pulp Fiction em um cinema que nem mesmo existe mais (e especificamente esse, já vai tarde!). A moral da história é muito simples: o filme me pegou de tal jeito que (1) não vi minha namorada passar mal com a sequência em que Travolta se droga (aquela em que vemos o êmbolo da seringa em detalhes e o sangue se misturando à droga); (2) se levantar e sair do cinema e (3) ficar me esperando – suando frio, desesperada – na porta do lugar (que era dentro de um shopping center). Quando os créditos rolaram, não a vi do meu lado e achei que ela estava no banheiro e continuei esperando sentado, vendo os nomes passarem, outro hábito que cultivo até hoje. Acho que dá para notar que a noite não foi boa (para ela), mas eu não saberia dizer, pois só me lembro do filme mesmo… E vejam bem: o final foi feliz mesmo assim! Nós nos casamos e continuamos casados! (ai, se ela ler isso aqui, estou ferrado pelas próximas semanas, quiçá meses…)

Três Homens em Conflito

Il Buono, il Brutto, il Cattivo | Sergio Leone | ?? 1966

Dentre os diversos filmes que meu pai me obrigou a ver com tenra idade, Três Homens em Conflito foi a exceção que confirmou a regra da época. Eu simplesmente detestava tudo o que ele me mostrava de diferente – aí incluídos 2001: Uma Odisseia no Espaço, Zorba, o Grego, Noites de Cabíria, Os Sete Samurais -, mas Clint Eastwood vivendo um pistoleiro sem nome correndo atrás de um tesouro no meio do deserto com uma trilha sonora absolutamente cativante e memoráveis e com aqueles close-ups nos olhos dos personagens e um clímax fantástico em um cemitério me pegou de um jeito tal que até hoje me lembro de minha alegria ao assistir o filme pela primeira vez. Não sabia que esse era o terceiro filme da chamada Trilogia dos Dólares (só fui descobrir anos depois), quem era Sergio Leone (hoje um de meus diretores favoritos) e muito menos Ennio Morricone (tive a oportunidade de assistir dois shows ao vivo dele, o que deixa clara minha devoção) e tudo o que me interessava era a completa hipnose a que fui submetido. Uma inesquecível experiência que repito sempre que posso!

Os Caçadores da Arca Perdida

Raiders of the Lost Ark | Steven Spielberg | ?? 1981

Por incrível que pareça, esse filme passou despercebido por mim na época de seu lançamento e eu só o assisti pela primeira vez quando ele estava para sair dos cinemas e, ainda por cima, em um drive-in (sim!) graças a um amigo meu que insistiu comigo, dizendo que era uma maravilha. E lá fomos nós com o carro da mãe dele (com a mãe dirigindo, que fique bem claro!) para ver o longa. Minha má-vontade desapareceu já na brincadeira com o logo da Paramount e, quando a sequência inicial na selva acabou, eu já estava completamente tomado pelo filme de aventura que simplesmente acabou com todos os filmes de aventura que existiam e que existiriam. Vi mais algumas vezes nos cinemas normais que ainda estavam passando essa obra-prima e, depois, sempre que podia, seja na televisão, seja alugando, seja depois comprando em DVD e Blu-Ray, seja em retornos esporádicos ao cinema, incluindo uma sessão no telhado de um prédio em Los Angeles, sentado em cadeira de praia, comendo hambúrguer e batata frita.

Os Sete Samurais

Shichinin no Samurai | Akira Kurosawa | ?? 1954

Como disse no comentário sobre Três Homens em Conflito, Os Sete Samurais foi um dos filmes a que fui apresentado com tenra idade por meu pai e que saí detestando. Afinal, era japonês, em preto e branco e longo pacas. A diferença em relação aos demais é que a história do filme ele me contava muito antes de eu assisti-lo pela primeira vez como “história de ninar” e eu adorava. Isso permitiu que eu quebrasse a barreira do “se foi apresentado pelo meu pai, então deve ser chato” mais rapidamente, ainda que isso só fosse acontecer mesmo comigo já adulto. Seja como for, mesmo considerando que a filmografia de Kurosawa tem filmes melhores ainda, Os Sete Samurais continua sendo meu favorito dele e de toda a vida.

Comando para Matar

Commando | Mark L. Lester | ?? 1985 

Estou me repetindo, mas esse aqui é mais um filme apresentado por meu pai e um dos favoritos dele. Sim, o mesmo cara que me apresentou a 2001: Uma Odisseia no Espaço tinha Comando para Matar como um de seus melhores filmes. Bem, é aquilo, não é? Tal pai, tal filho… Mas como resistir a Arnold Schwarzenegger pulando de um avião comercial depois de quebrar o pescoço de bandido, tacar o outro de um precipício mesmo depois de prometer matá-lo por último, usar tinta preta de camuflagem pelo corpo sem nenhum efeito prático, metralhar e explodir vagabundo de tudo quanto é jeito e, claro, derrotar o final boss com um cano? Putz, só de escrever isso já dá vontade de rever…

A Noviça Rebelde

The Sound of Music | Robert Wise | ?? 1965

Adoro musicais. Mas o mais adorado entre os que adoro – sentimento compartilhado por toda minha família, aliás – é A Noviça Rebelde. Já vi esse filme incontáveis vezes e tenho de cor todas as músicas. Mas não só isso. Por causa dele, vi montagens da peça tanto fora do país quanto no Brasil (infelizmente, com as músicas em português, o que não é a mesma coisa), conheci Salzburgo e passei uma noite no paradisíaco hotel fundado pela família Von Trapp em Vermont, nos EUA (e onde estão enterrados o capitão e Maria verdadeiros). Dá para ver que, quando eu gosto de alguma coisa, não meço esforços, não é mesmo?

Luiz Santiago

Fazer uma lista de filmes favoritos é algo bem complicado. Para quem vê filmes desde criança (a maioria de nós, imagino eu) e principalmente para quem trabalha com essa arte, a grande exposição a todo tipo de filme pode se tornar um problema na hora de selecionar um número pequeno de obras, como no presente caso. Mas pensando com cuidado, adicionando uns títulos aqui, tirando outros títulos ali, até que conseguimos chegar a um lugar interessante — e possivelmente provisório para alguns deles. Segue abaixo então os meus favoritos da vida, até o momento.
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A Regra do Jogo

La Règle du Jeu | Jean Renoir | ?? 1939

O primeiro filme que eu vi do Jean Renoir foi A Carroça de Ouro, em uma mostra. Na mesma programação estava marcado para exibirem A Regra do Jogo, e foi por pouco, por muito pouco que eu não fiquei para a sessão. Até hoje agradeço aos meus primos por insistirem para que eu “deixasse de ser imbecil e ficasse para mais um filme“. Mal sabia eu que sairia da sala com o meu filme favorito por muitos anos a partir daquela data. Todo o lance de jogar com encenações expostas como crítica social, teatro, música, comédia, drama e crime é sensacional… Tudo nesse filme é digno de se aplaudir de pé. Sem contar que tem a melhor cena de caça do cinema. Uma obra-prima!

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Cidadão Kane

Citizen Kane | Orson Welles | ?? 1941

Antes de A Regra do Jogo, Cidadão Kane ocupou o topo da minha lista de filmes favoritos de todos os tempos. Além de ser um dos filmes mais tecnicamente incríveis, importantes e essenciais da História do Cinema, o impacto que essa história tem sobre o espectador é coisa de outro mundo. O retrato de uma vida onde escassez e excesso se separaram a partir de determinado ponto, e então, personalidade e vida desse grande homem passam a ser narradas pelos muitos indivíduos que o cercavam. É um filme que fala sobre a construção polêmica de uma vida. E um relato sobre o que essa vida foi… aos olhos dos outros, guardando em si mesmo um mistério jamais revelado… exceto para o espectador.

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Os Sapatinhos Vermelhos

The Red Shoes | Michael Powell, Emeric Pressburger | ?? 1948

Os Sapatinhos Vermelhos é, para mim, um dos musicais mais interessantes já feitos (juntamente com Hamilton) e tem uma história que dá arrepios só de lembrar. A fixação por algo e os resultados que isso pode trazer ganham outros patamares no filme. Eu me emociono toda vez que me lembro da forma como os diretores guiaram isso nesta obra. Um filme instigante e que nos deixa extremamente pensativos a cada vez que o revemos.

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O Sétimo Selo

Det Sjunde Inseglet | Ingmar Bergman | ?? 1957

Este foi o meu segundo Bergman e minha marcação definitiva para o amor que tenho pelo diretor. Plasticamente perfeito e dramaticamente insuperável, O Sétimo Selo retrata, numa mistura de realismo e fantasia medieval, um jogo que é uma metáfora daquilo que vivemos. A nossa constante relação com a morte e, por fim, o momento que devemos nos encontrar com ela. Mas assim como a vida, O Sétimo Selo é um filme como como atravessar, sem prisões e tristeza permanente, esse longo caminho. Uma das melhores obras do cinema e um dos filmes que mais me marcaram na vida.

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Bom Dia

Ohayô | Yasujiro Ozu | ?? 1959

Este foi o primeiro filme de Ozu que eu assisti, fazendo com que eu me encantasse de cara pela forma como o diretor narra as suas histórias. Os laços fraternos que o filme retrata são tão bonitos e tão fortes que me fizeram lembrar dos meus laços fraternos pessoais, inclusive com situações que vivi em casa, quando criança, com todo mundo cheio de personalidade cobrando por alguma coisa. Um filme delicado, engraçado e que é capaz de deixar qualquer um com um grande sorriso no rosto, além de ajudar a reacender o nosso amor pela vida, pela forma como nos adaptamos a um mundo em constante transformação.

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Felli Otto e Mezzo | Federico Fellini | ?? 1963

Só de escrever essa pequena justificativa para Oito e Meio eu consigo ouvir a música de Nino Rota, o som do chicote de Mastroianni estalando na procissão das pessoas que marcaram sua vida, a cara dos figurantes, dos protagonistas. E a voz de Fellini. Filmes de caráter metalinguístico sempre me fascinaram e Oito e Meio é, para mim, o maior deles (desculpe, Billy Wilder). Ver o sofrimento e a saga do protagonista para realizar mais um longa e ter como produto o próprio processo de produção é uma ideia-acidente genial. Eu me divirto imensamente com Oito e Meio e sempre que o revejo fico repetindo ASA NISI MASA por um bom tempo. Não dá pra evitar.

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A Pequena Loja da Rua Principal

Obchod na Korze | Ján Kadár, Elmar Klos | ?? 1965

Confesso que antes de elencar este estupendo longa de Ján Kadár e Elmar Klos à minha lista de favoritos eu tinha outro filme em mente e cheguei até a listá-lo, mas, no conflito de consciência cinéfila que tive depois — algo muito propício em se tratando deste longa, diga-se de passagem — venceu esta obra-prima sobre a consciência moral e a natureza humana ambientado em uma pequena cidade da antiga Checoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Não se trata propriamente de um filme de guerra. Trata-se de um filme onde a guerra assume o poder de modificar as vidas de pessoas comuns e colocar indivíduos até então decentes em situações inimagináveis. Emocionante, triste, crítico e filosófico, o filme tem a capacidade de denunciar o horror a partir de comportamentos cotidianos de qualquer pessoa em uma cidade sob um poder opressivo.

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O Desespero de Veronika Voss

Die Sehnsucht der Veronika Voss | Rainer Werner Fassbinder | ?? 1982

É impressionante como os “primeiros filmes” que eu vi de grandes diretores foram capazes de me marcar tanto, para a vida toda. Veronika Voss também foi o meu primeiro Fassbinder, e eu o assisti em um momento de delicados eventos familiares, de modo que o desespero da personagem me era muito próximo, mesmo que numa esfera diferente. Foi uma verdadeira revelação. Tive a oportunidade de ver a obra mais duas vezes depois disso, uma delas em tela grande, e tudo ficou ainda mais forte, mais impactante. Fassbinder é um dos meus cineastas favoritos e Veronika Voss o meu filme favorito dele.

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Amor à Flor da Pele

Fa Yeung nin Wah | Won Kar-Wai | ?? 2000

O que é o amor? Como viver um amor? Como sobreviver a um amor? Cheio de sensações, delicadezas e muita sugestão, Amor à Flor da Pele se alça como uma das obras de maior impacto sobre o tema dos relacionamentos com obstáculo e tem uma das melhores fotografias em cores de toda a História do Cinema! Um filme que eu me apaixono ainda mais só de olhar um fotograma dele ou de ouvir o sublime Yumeji’s Theme, de Shigeru Umebayashi.

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As Praias de Agnès

Les Plages d’Agnès | Agnès Varda | ?? 2008

Um filme que é uma união extremamente criativa de tudo o que mamãe Varda fez de melhor em sua carreira. Como ela, eu também tenho um grande fascínio por praias (e cachoeiras) e este longa foi um dos melhores mergulhos inventivos que eu já tive a oportunidade de fazer. É um dos meus documentários favoritos também!

Michel Gutwilen

Minha história de cinefilia é um grande clichê. Até a pré-adolescência, a predominância dos blockbusters spielbergianos ou filmes de herói; além de franquias como Star Wars, Harry Potter e 007. Posteriormente, lá pelos meus 16 anos, surgiu o interesse em ficar atento ao Oscar, passando a ver todos os indicados na categoria principal. De lá, fui me aventurar na categoria de filmes estrangeiros. Acho que foi mais ou menos neste momento que me deparei com este nicho fora da hegemonia norte-americana, de ritmo e histórias diferentes, que passei a ver que o cinema era muito mais do que eu consumia. Assim, no início da minha fase adulta, comecei a correr atrás dos grandes clássicos e ficar atento aos lançamentos mais alternativos. Cá estou eu, há 3 anos nesta luta frustrante contra o tempo (pois é fato que todos nós morreremos sem ver tudo que queremos). Se a mudança ocorreu no meu interesse pelo que ver, ela também se fez presente na forma de pensar e absorver cinema. Por muito tempo eu identifiquei a qualidade de um filme pela história que ele contava (ou seja, o roteiro), mas hoje me importo muito mais pela maneira COMO as histórias são contadas. Menções honrosas para: True Romance (Tony Scott); Safe (Todd Haynes); Scarlet Street (Fritz Lang); The Godfather (Francis Ford Coppola); Le Havre (Aki Kaurismaki).

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O Demônio da Algéria

Pépé Le Moko | Julien Duvivier | ?? 1937

Numa periferia da Algéria, um gangster famoso começa a ser encurralado pela polícia e precisa fugir, ao mesmo tempo que uma paixão o prende a cidade. O nosso ponto de vista não é o da polícia, mas do charmoso e simpático anti-herói vivido por um dos maiores atores de todos os tempos, Jean Gabin. Parte do realismo poético francês, muitos motivos me fazem ser apaixonado por Demônio da Algéria: a região de Casbah e suas escadarias, que separam o mundo dos pobres e dos ricos, são como um personagem vivo. Há uma relação quase amistosa e de cordialidade entre detetive e fugitivo, como duas pessoas querendo jogar este jogo de gato e rato, algo que ganharia força no cinema noir. Ao mesmo tempo, também há muito espaço para uma das histórias mais trágicas de amor do cinema. 

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Um Dia no Campo

Partie de Campagne | Jean Renoir | ?? 1946

Oficialmente, Um Dia no Campo é considerado um filme incompleto. Mas quem assiste ao filme de Jean Renoir sabe que ele é completo e, justamente, a sua elipse temporal, proveniente da parte perdida, acaba ganhando um poderoso sentido narrativo. Talvez esta obra seja o que mais aproximou o cinema de uma pintura barroca. É o sentimento de bucolismo vivido de maneira graciosa e inocente ao longo de seus 40 minutos. O campo como esse lugar de luz, pureza e que pode proporcionar paixões. Há um movimento de câmera específico do Renoir numa cena envolvendo um balanço que considero um dos mais bonitos da história do cinema.

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Noites de Cabíria

Le Notti di Cabiria | Federico Fellini | ???? 1957

Pode-se confundir o que acontece com a protagonista de Noites de Cabíria como sadismo. Sua protagonista é uma mulher sonhadora, inocente, que acredita nas histórias que passam no cinema. O que faz Fellini é dar o doce na frente da criança, deixar ela dar uma mordida, e depois tirar. Cabíria chega a experimentar a felicidade material momentaneamente, apenas para depois levar um choque de realidade. Menos sobre torturar sua protagonista, e mais sobre explorar como o rosto de Giuletta Masini mostrar um sorriso a cada porrada que a vida lhe dá. Sobre o potencial da fé humana e da inocência de espírito que não pode ser perdida. Se a protagonista começa e acaba o filme na mesma condição de pobreza, sua evolução como pessoa é uma das mais bonitas da história do cinema. É sobre isso a jornada e por isso sou apaixonado por este filme de Fellini. E o sorriso no final, misturado ao choro, é o resumo ideal desta obra agridoce. 

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Um Corpo Que Cai

Vertigo | Alfred Hitchcock | ?? 1958

Lembro que fui assistir a Um Corpo que Cai já tendo o conhecimento de que ele era considerado o melhor filme de todos os tempos revista inglesa Sight and Sound. Digo isso porque criar expectativas é sempre ruim. Porém, a força da obra-prima de Hitchcock é tão transcendental, que nem isso pode abalar uma das experiências mais magnéticas que já tive ao assistir alguma obra audiovisual. Existe uma mística na maneira como a narrativa é conduzida, uma linha tênue que separa o real e o que não, fazendo tudo parecer um grande pesadelo ou sonho. Um filme sobre estar em looping, sobre parecer que estar chegando ao final de um corredor e perceber que quanto mais se aproxima, mais longe ele fica. Complementando meu amor pela obra, as duas críticas que mais me inspiram na vida e acho dos maiores ensaios já produzidos são sobre Um Corpo que Cai (coincidentemente textos de dois diretores de cinema, também críticos), feitas por Éric Rohmer e Chris Marker.  

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O Batedor de Carteiras

Pickpocket | Robert Bresson | ?? 1959

Com Bresson aprendi que menos pode ser mais. Esconda a expressão dos atores, tire a maior parte dos diálogos e confie nos gestos. Confie no poder das mãos. Confie que será justamente o rosto dos atores vazios que irá revelar suas almas (como diz André Bazin). E eu penso que Pickpocket tenha tudo isso e mais um pouco. É sobre um homem vazio, cujo prazer da vida, aparentemente, está na atividade de roubar. Mas não é propriamente o ato de roubar. É o instante antes do roubo. A adrenalina que entrar em seus sangues no momento que ele está encarando a sua vítima, perto de roubá-la. O paradoxo entre o medo de ser pego mas ser, ao mesmo tempo, o único em que se sente vivo.  

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A Pista

La Jetée | Chris Marker | ?? 1962

Antes de ver A Pista, nunca tinha assistido um filme somente constituído de imagens paradas (tempos depois assisti a outra obra-prima do gênero, Je Vos Salue Saravejo, do Godard). Como assim, o movimento não é a base do cinema? Sim, mas não necessariamente ele precisa estar dentro do plano, estando na troca de planos, ou seja, na montagem. Assumidamente baseado em Um Corpo que Cai, o média-metragem de Chris Marker me fez ficar mais apaixonado com o cinema, pois me senti esperançoso como um cineasta amador. Tire fotos, crie uma narrativa entre elas e insira uma narração que as ligue (não necessariamente nessa ordem). O resultado disso pode levar uma catarse extremamente poderosa, como é o caso desta obra.  

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Era Uma Vez na América

Once Upon a Time in America | Sergio Leone | ???? 1984

Ainda que a passagem pelo gênero western seja o que mais marcou a curta carreira de Sérgio Leone — e, com razão, uma vez são excelentes —, sua magnum opus é na única vez em que explorou o ambiente urbano contemporâneo. Costumo brincar que Era uma vez na América poderia ser dividido em 2 filmes, e que ambos seriam obras de arte por si só: o coming-of-age de um menino e a decadência de um homem mafioso. Contudo, a potência está justamente nessa viagem de ópio que une as duas fases distintas da vida, em montar aos poucos o quebra-cabeça. Entendemos como aquela criança inocente que olhava sua amiga trocar de roupa pelo furo na parede foi virando um dos maiores mafiosos de sua região. Poucas vezes a pureza foi personificada no cinema como o que faz Jenniffer Connelly e raramente uma trilha sonora conseguiu transformar sentimentos vivos em notas musicais como a de Ennio Morricone. 

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Estranhos Prazeres

Strange Days | Kathryn Bigelow | ?? 1995

Gosto muito de distopias e o universo que Bigelow constrói para Estranhos Prazeres é um dos maiores retratos da virada do século. Ele é cru, sombrio e sujo. É um também um filme que parece pessimista em relação ao próprio futuro do cinema, em um subtexto metalinguístico paralelo surgimento dos cd-roms e que repensa os limites de onde as fronteiras do audiovisual podem atingir. Revisitar os sonhos (no caso, o cinema) em looping é a única forma (e até perigosa, em excesso) de fugir da realidade horrível em que os personagens vivem. Além disso, Bigelow traz um dos usos mais sensoriais e poderosos da câmera subjetiva que já vi no cinema.

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Amantes

Two Lovers | James Gray | ???? 2008

Quando penso em Amantes, penso na complexidade das relações amorosas da vida. Sobre quantas vezes já reclamei de uma pessoa que eu gostava e eu não dava atenção, enquanto, ao mesmo tempo, eu fazia o mesmo com uma pessoa que gostava de mim. A intensidade de uma paixão e a intensidade de um relacionamento? Não há o maniqueísmo de certo e errado no que os personagens estão fazendo, mas apenas escolhas e decisões a serem tomadas. Um filme de enorme honestidade, no qual James Gray constrói lentamente uma poderosa catarse ao final. 

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Eu Matei Minha Mãe

J’ai Tué ma Mère | Xavier Dolan | ?? 2009

A inclusão de Eu Matei Minha Mãe na lista é a máxima de que toda relação de uma pessoa com qualquer obra de arte é baseada em sua experiência pessoal prévia. Acredito que para cada pessoa por aí, deve haver um filme que mais se assemelhe de sua história de vida, quase como se fosse sua biografia sendo contado por outra pessoa que nem te conhece e do outro lado do mundo. Claro, seria impossível a compatibilidade de 100% (Dolan expõe a ótica de um jovem homossexual não vivida por mim), mas, pelo menos até o momento em que faço esta lista, ainda não vi nada que mais se assemelhe com a minha relação materna. Dolan cria uma narrativa crua, afobada, raivosa, impulsiva sobre uma relação extremamente tóxica, numa estranha (mas realista) dualidade entre o ódio e o amor. 

Handerson Ornelas

Minha paixão por cinema vem desde muito pequeno. Quando era criança e até adolescente brincava de criar filmes com um dos meus melhores amigos. A gente criava a concepção toda do filme, fazia desenhos, explicava os roteiros e tínhamos até nossas próprias empresas imaginárias que produziam os filmes. Hoje pode parecer bobo, mas eu vejo como influenciou meu gosto pela arte e incentivou minha criatividade e imaginação. E alguns dos gêneros que mais me fascinaram nessa época continuam entre meus preferidos: aventura, fantasia, animação, super-heróis. Além de outros que viriam me conquistar a medida que eu amadurecia (drama, musical, western). E parte de todas essas minhas influências podemos ver aqui nessa lista de filmes preferidos.
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Era Uma Vez No Oeste

C’era una Volta il West | Sergio Leone | ?????? 1963

Essa obra-prima de Sergio Leone é um épico de proporção absurda, apresentando um belo conto no solitário oeste e acompanhando personagens fascinantes, que pra sempre ficarão comigo. Minhas predileções são moldadas por grandes personagens, e o famoso e misterioso “homem da gaita” é um deles, se encontrando entre meus heróis preferidos. A trilha sonora de Morricone aqui é provavelmente minha trilha sonora preferida, me proporcionando uma catarse completa quando junto a uma câmera tão precisa como a de Leone.

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O Poderoso Chefão

The Godfather | Francis Ford Coppola | ?? 1972

Um filme que mudou toda a minha visão sobre cinema, além de minha visão sobre a vida em si. O olhar de Copolla para a família Corleone abre espaço para um debate sobre a efemeridade da vida, as fragilidades de um homem, assim como seu orgulho e busca por poder. Eu realmente não sei definir bem o que mais me impacta em O Poderoso Chefão, mas desde suas frases memoráveis até seus densos personagens, se trata de uma obra que permaneceu em mim desde que a conheci (e se fortaleceu cada vez que revisitei).

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Evil Dead 2 – Uma Noite Alucinante

Evil Dead 2 | Sam Raimi | ?? 1987

Sam Raimi fez o filme de terror mais bad ass e divertido que já assisti. Acompanhar uma noite em que Ash enfrenta demônios e eventos inusitados usando uma motosserra no lugar da mão é um deleite sem tamanho. Hilário, divertido e perturbador. Ash é o maior herói que os filmes de terror já viram.

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Meu Amigo Totoro

Tonari no Totoro | Hayao Myiazaki | ?? 1988

Magnum opus de Myiazaki é uma exaltação à simplicidade da vida e ao olhar ingênuo da infância que insistimos em perder conforme crescemos. Se trata de uma visão do extraordinário no meio de cenários totalmente ordinários. Acredito que nenhuma cena do cinema converse tanto comigo como a de Totoro junto às irmãs fazendo a árvore crescer. O tema belíssimo de Joe Hisaishi unido à contemplação do inesperado mostra como o poder da imaginação – essa fiel amiga que me acompanhou tanto na infância – pode ser algo transformador.

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Túmulo dos Vagalumes

Hotaru no Haka | Isao Takahata | ?? 1988

Todo mundo que já assistiu essa obra do Takahata sabe a tristeza desoladora dessa obra, que até me deixa com receio de colocá-la nessa lista. Mas a verdade é que poucas obras me fizeram sentir a angústia que Túmulo dos Vagalumes me promoveu, me fazendo contemplar não puramente o nível de injustiça que há nesse mundo, mas também o nível de amor que pode se existir. E a indagação mais bela e lamentável que já encontrei: por que os vagalumes morrem tão cedo?

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Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

Jurassic Park | Steven Spielberg | ?? 1993

Minha paixão pelo gênero aventura e admiração pelo Spielberg reside aqui. Um dos longas que mais reassisti quando era pequeno, fico fascinado até hoje quando assisto pela centésima vez. É aventura e suspense executados com uma maestria impressionante, tudo isso com os melhores protagonistas e vilões possíveis: dinossauros.

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Homem-Aranha

Spider-Man | Sam Raimi | ?? 2002

A sensação que tiveram com Superman voando no filme original de 1978 é equivalente a que tive nos cinemas quando vi meu herói preferido balançando com sua teia pelos prédios. Até hoje acho inacreditável, não os efeitos visuais, mas a aura deslumbrante que Raimi imprime do herói nessa obra: seus dilemas e conflitos, a responsabilidade que Peter se dá conta que carrega. Um filme que exala quadrinhos em todas as suas sutilezas e imperfeições. Excelente.

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Scott Pilgrim Contra o Mundo

Scott Pilgrim vs The World | Edgar Wright | ?? 2010

Esse aqui resume meu espírito nerd e é definitivamente o filme da minha adolescência/juventude. Uma história de amor (e de autoconhecimento) contada de uma forma inusitada, encharcada de referências de games. Quem não enfrentaria 7 ex-namorados por Ramona Flowers? Scott Pilgrim é um bombardeio sensorial e estético que me fez ficar apaixonado pela filmografia de Edgar Wright.

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Toy Story 3

Toy Story 3 | Lee Unkrich | ?? 2010

Toy Story é minha franquia preferida e escolher um dos filmes pra figurar aqui é uma escolha difícil, ainda mais com o recente quarto filme tendo me impactado tanto. Entretanto, o terceiro capítulo dos brinquedos de Andy me fez contemplar minha própria infância e amadurecimento. Eu envelheci com aqueles personagens, é impossível não se colocar na pele de Andy diante daquela despedida tão linda. A Pixar é a prova de como cinema mainstream ainda pode fazermos refletir sobre nós mesmos.

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La La Land: Cantando Estações

La La Land | Damien Chazelle | ?? 2017

O filme mais recente dessa lista, Chazelle conquistou meu coração com dois filmes que configuram entre meus preferidos, mas só um está presente aqui. Falar de tecnicidades das incríveis cenas musicais de La La Land é chover no molhado, o que realmente me toca no longa é a história de amor, provavelmente a que mais me envolvi na ficção, embalada por uma fascinante e encantadora paixão pelo jazz. Das várias vezes que assisti, termino sempre com os olhos encharcados e um sorriso no rosto.

Leonardo Campos

O cinema sempre esteve em minha trajetória de vida por causa de minha mãe, uma cinéfila inveterada que pelo que me recordo, não perdia uma sessão de filmes na televisão aberta, tampouco as narrativas de suspense aos sábados, no famoso Super Cine, algo sempre acompanhado pelos meus olhos ainda curiosos, mas sem a devida compreensão dos mecanismos que formulavam a tal arte que na atualidade, tornou-se dominante em minha vida profissional enquanto crítico, escritor e professor universitário no curso de graduação em Cinema e Audiovisual. Creio que Sexta-Feira 13 Parte 7 tenha sido meu primeiro filme conferido numa postura cinéfila e Moulin Rouge – Amor em Vermelho foi a reiteração da cinefilia uma década depois e ainda hoje, juntamente com a lista que acompanha este parágrafo introdutório. É uma seleção de filmes que pode mudar com o passar do tempo, mas que apresenta produções que continuam relativamente fixas desde as retrospectivas com os “Melhores de Minha Vida”, realizadas em 2002, 2008, 2010, 2015 e em meu contexto cinéfilo atual. 

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Sexta-Feira 13 Parte 7: A Matança Continua

Friday The 13th Part VII – The New Blood | John Carl Buchler | ?? 1987

Como não respeitar o filme e a franquia que te colocou na rota dos filmes? Sexta-Feira 13 tem o seu lugar na história do subgênero slasher, bem como em minha vida. Segundo levantamento feito na ocasião de Como e Por Que Sou Crítico de Cinema, livro que considero uma carinhosa publicação autobiográfica, Sexta-Feira 13 Parte 7 – A Matança Continua foi o primeiro filme que lembro ter assistido em minha vida. O discurso da memória, sabemos, é falho, nebuloso, traz incongruências, mas lembro com carinho que a produção foi gravada em fita VHS por um primo enquanto acompanhávamos o filme numa exibição televisiva, em 03 de junho de 1991 (ao menos foi o que me disseram com base em registros quando procurei os arquivos da rede transmissora para pesquisar a informação). É bem provável que não tenha sido exatamente o primeiro, pois minha mãe, responsável por minhas inclinações literárias e cinematográficas, me fazia ser um espectador dos clássicos da Sessão da Tarde enquanto executava as lições de casa. É preciso levar em consideração que a sexta parte foi transmitida um ano antes. No entanto, será que eu assisti a sua reprise? Não sou capaz de “afirmar”, mas o sétimo filme é o primeiro visto numa postura de entretenimento cinéfilo consciente. Hoje eu tenho noção dos problemas de ordem dramática e estética na franquia, mas jamais vou desconsiderar o seu lugar em minhas bases. Não ter assistido ao filme para os comentários no dia seguinte na escola era como não vestir rosa nos dias de quarta-feira (saiba mais em Meninas Malvadas). Ademais, tanto esse quanto os demais da franquia eram conferidos em grupo, com pipoca e comentários sobre cada cena. Fazia-se concurso de desenho e até “brincávamos” de Jason. Mais cinéfilo que isso, impossível!

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O Silêncio dos Inocentes

The Silence of The Lambs | Jonathan Damme | ?? 1991

Quando conferido na primeira ocasião de uma exibição televisiva, O Silêncio dos Inocentes não teve o mesmo impacto que a fruição na posteridade, algo em torno de uma década após o contato inicial com os personagens criados por Thomas Harris em seu romance homônimo, comandados pela direção segura de Jonathan Damme na premiada e luxuosa produção de 1991. Jodie Foster e Anthony Hopkins transformaram o filme num espetáculo dramático intenso, haja vista os desempenhos de seus personagens, Clarice Sterling e Hannibal Lecter, respectivamente, figuras mergulhadas numa jornada orquestrada pela igualmente brilhante trilha de Howard Shore. Dos diálogos afiados ao traquejo da direção de fotografia na condução da narrativa, O Silêncio dos Inocentes é um dos grandes filmes da história do cinema, eficiente na manipulação da linguagem audiovisual, no equilíbrio do suspense e na maneira como aborda a violência sem cair no discurso de vulgarização da morte de uma produção slasher qualquer.

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Thelma & Louise

Thelma and Louise | Ridley Scott | ?? 1991

A jornada feminina e feminista de Thelma & Louise, personagens de Genna Davis e Susan Sarandon, dirigida por Ridley Scott com base no roteiro de Callie Khouri é uma alegoria para a nossa travessia cotidiana em cada dia de nossas vidas. Erros e acertos, momentos de dificuldade e outros de esperança, tudo isso está no premiado drama que retrata a vida de duas mulheres cansadas de suas estagnações sociais. Do carinho que tenho por uma das selfies mais famosas do cinema, ao desempenho dramático das atrizes num momento brilhante de suas carreiras, Thelma & Louise encontra-se entre os meus prediletos por seu desfecho “aberto” e simbólico que me faz lacrimejar só de lembrar, bem como por seus diálogos inteligentes e memoráveis. O desenvolvimento dos conflitos e dimensões psicológicas das protagonistas e uso de coadjuvantes nada aleatórios também me permitem colocar a produção no concorrido e injusto (mas necessário) patamar dos 10 filmes mais memoráveis de minha trajetória cinéfila. Não sei explicar, mas sempre que penso no drama e como elenca-lo em lista desses tipos, relembro de Filadélfia, Em Nome do Pai e Cinema Paradiso. Acredito que seja porque foram assistidos no mesmo período que reformulei o meu contrato com o mundo do cinema, ao ter a epifania sobre ser cinéfilo com Moulin Rouge – Amor em Vermelho, ocasião das diversas sessões no conforto do meu lar, enquanto meus amigos e alguns familiares viajavam ou pululavam pelas ruas ao som do tal contagiante carnaval de Salvador, em fevereiro de 2002.

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Instinto Selvagem

Basic Instinct | Paul Verhoeven | ?? 1992

A relação com Instinto Selvagem dentro do meu esquema cinéfilo é algo semelhante ao encontro eletrizante de Hannibal e Clarice em O Silêncio dos Inocentes. Contemplado inicialmente numa exibição televisiva, o filme foi acompanhado por uma postura cinéfila ainda pulsante, mas não declarada. Ao ser revisitado recentemente, na ocasião da reescrita de alguns capítulos do livro O Cinema de Alfred Hitchcock, publicado em 2016, o clássico moderno tornou-se um dos suspenses mais intrigantes do cinema hollywoodiano em minha opinião, pois manipula a linguagem cinematográfica de maneira formidável, da direção de fotografia incrível de Jan De Bont ao som envolvente da textura percussiva composta para a trilha sonora assinada pelo veterano Jerry Goldsmith. O polêmico Paul Verhoeven dirige o roteiro de Joe Eszterhas e reapresenta uma nova versão de Sharon Stone ao mundo, antes eclipsada por filmes pouco empolgantes. Tudo é intenso demais no jogo erótico do filme que também apresenta um bom desempenho dramático de Michael Douglas, ator mergulhado na atmosfera neo-noir que compõe o chamado “Legado de Alfred Hitchcock”, afinal, há muitos elementos de Vertigo nesta trama cuidadosamente executada, relação metalinguística que também justifica a sua inclusão no livro mencionado anteriormente, também organizado com bases em filmes conectados ao eterno mestre do suspense.

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Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

Jurassic Park | Steven Spielberg | ?? 1993

Por que não Tubarão? Você demonstra fascínio e já analisou tantos filmes sobre o tema, tem até a camisa do filme e peças sobre o filme como decoração da sua estante de filmes. Essa é uma pergunta constante quando reforço que meu filme predileto de Steve Spielberg, bem como um dos privilegiados em minha lista de mais marcantes de minha trajetória cinéfila é Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros, uma das narrativas mais empolgantes do gênero aventura e parte elegante e autêntica do subgênero horror ecológico. Laura Dern, Sam Neil, a música tema de John Williams, a história sobre seres que mesclam fascínio e pavor, dentre outras justificativas fazem desta dinâmica história sobre manipulação e ética na pesquisa cientifica um dos filmes que marcaram as minhas primeiras idas ao templo da cinefilia clássica: a sala de cinema, atualmente trocada por exibições de streaming e outras opções de consumo das gerações mais recentes. Os efeitos visuais, os eficientes efeitos especiais, a edição e o ritmo empolgante da história consolidaram o interesse por narrativas ficcionais, algo que anos depois se tornaria algo além da pura cinefilia, mas o exercício profissional dominante em minha jornada cidadã cotidiana.
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Pânico 2

Scream 2 | Wes Craven | ?? 1997

Wes Craven é o criador de dois universos cinematográficos que são idolatrados em minha jornada cinéfila e profissional. A Hora do Pesadelo e Pânico. Freddy Krueger e Ghostface. Duas franquias que poderiam ser apenas mais litros de sangue falso e investimentos em maquiagem para a composição da trilha de corpos na história do subgênero slasher. No entanto, os argumentos se transformaram em circuitos narrativos com potencial para discussões sobre o impacto do cinema em nossas vidas. Pânico 2 ainda é o meu predileto, não apenas entre as quatro produções da franquia, mas no panorama de filmes inesquecíveis. O amadurecimento de Sidney Prescott, a sua associação com a Escola de Teatro e o paralelo com Cassandra, personagem icônico da mitologia grega, juntamente com o magnetismo junto aos demais membros do elenco principal, isto é, Courteney Cox e David Arquette, além da coragem dos realizadores em ceifar a vida de figuras importantes do jogo tornam esta sequência tão incrível e ainda melhor que o seu antecessor. Ainda é preciso dizer que há acertos no filme dentro do filme, no debate sobre a polêmica em torno do suposto impacto da violência do cinema na vida real, além das estratégias narrativas mais elaboradas que demonstram evolução na dinâmica interna de um universo apresentado como franquia, hiperconectado em suas quatro partes.

 

Tudo Sobre Minha Mãe

Todo Sobre Mi Madre | Pedro Almodóvar | ?? 1999

O premiado drama de Pedro Almodóvar foi outra parte integrante do meu ritual de iniciação na cinefilia. Dos personagens incríveis aos diálogos inteligentes e humorados, Tudo Sobre Minha Mãe é um belo trajeto de figuras que se aproximam alegoricamente da minha realidade cotidiana. O filme retrata preconceito, maternidade, amor, paixão, mágoas, luto, renúncias e outros tópicos que se tornam ainda mais apaixonantes quando as conexões metalinguísticas com Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, e o formidável A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz, clássico que representa o momento máximo na carreira de Bette Davis, grande dama do cinema clássico hollywoodiano. As cores intensas da direção de arte e a iluminação que transforma os desempenhos de Cecilia Roth e Penélope Cruz em pura aura dramática. Almodóvar brilha intensamente em tantos outros filmes, mas Tudo Sobre Minha Mãe será para sempre não apenas a sua principal referência no bojo do meu gosto pessoal, mas também em minha visão profissional sobre a linguagem cinematográfica.

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Beleza Americana

American Beauty | Sam Mendes | ?? 1999

Sou apaixonado pela trilha sonora de Thomas Newman. É a textura percussiva ideal para acompanharmos os personagens de Allan Ball dirigidos por Sam Mendes num momento crucial de sua carreira. A jornada de Lester (Kevin Spacey) é uma alegoria para o desenvolvimento de nossas vidas em qualquer nação mergulhada nas opressivas dinâmicas do chamado capitalismo tardio. A sua trajetória dialoga com os coadjuvantes e todos juntos formam um microcosmo que espelha as angústias de uma vida voltada ao jogo das aparências. Se lançado na era das redes sociais, isto é, a fase da humanidade mais tenebrosa no que tange ao constante processo de manipulação das aparências, talvez Beleza Americana mantivesse praticamente toda a sua estrutura dramática, com poucas alterações no excelente texto de Ball e na forma como a direção de fotografia de Conrad L. Hall flerta com a linguagem clássica para retratar temas tortuosos. É o que chamo de perfeição na imperfeição. Os enquadramentos são milimétricos, o cálculo da luz é pontual e traz brilho para criaturas esmagadas por seus contextos de vida mergulhados na tristeza profunda, um paradoxo textual para um visual tão deslumbrante, esquema narrativo que Allan Ball traria depois para a excepcional jornada de cinco temporadas em A Sete Palmos.

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Moulin Rouge – Amor em Vermelho

Moulin Rouge | Baz Luhrmann | ?? 2001

Quando lançado em 2001, Moulin Rouge – Amor em Vermelho não apenas abriu as portas para uma nova onda de musicais na indústria cinematográfica, mas também foi o momento de minha maior epifania cinéfila. Percebi que não apenas curtia filmes como entretenimento, mas gostava de ir além e compreender os mecanismos que engendram o seu funcionamento enquanto arte multimodal. Na ocasião, descobri que Nicole Kidman se tornaria a minha atriz favorita, uma das damas mais versáteis e talentosas das artes dramáticas contemporâneas. Senti que havia algo de Madonna e Marilyn Monroe e seu personagem e essas descobertas ganharam mais sentido quando o filme avançou da seara cinéfila e se tornou parte de minhas experiências profissionais desde as primeiras palestras, aulas e outras interações com a exposição crítica da linguagem cinematográfica, mixada com traços do videoclipe, ópera, cultura pop, dentre outros elementos apaixonantes, da trilha sonora incrível ao desempenho encantador de Ewan McGregor como o pobre escritor a se apaixonar pela cortesã mais linda do cinema.

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As Horas

The Hours | Stephen Daldry | ???? 2002

A presença de As Horas nesta lista dos filmes mais memoráveis de minha vida não é apenas pelo desempenho dramático de Nicole Kidman, tão fascinante quanto os trabalhos de Meryl Streep e Julianne Moore. Dos três segmentos, gosto até mais do personagem de Clarissa, circundante no contemporâneo, interpretada por Streep. O que me faz um apaixonado pela narrativa é a sua estratégia de tradução intersemiótica do complexo livro homônimo de Michael Cunningham, premiada publicação com fluxo de consciência e de histórias em torno da figura enigmática de Virginia Wolf. A direção de Stephen Daldry é sutil, cuidadosa e esbanja harmonia ao dialogar com três personagens tão fortes. As cores opacas em contrastes com os pouquíssimos objetos de maior intensidade visual nos permitem adentrar neste universo de mulheres eclipsadas por seus respectivos conflitos internos e externos, numa narrativa que reflete a condição da mulher e a família como um espaço de violência. Ed Harris e Claire Danes, personagens com menor tempo em cena, mas com a mesma intensidade dos demais, completam as discussões empreendidas pelos dramas vivenciados em tela na trajetória das protagonistas. Ademais, o ponto alto de As Horas em minha vida é a sua trilha sonora, executada no momento em que escrevo esta lista para vocês, uma inebriante textura percussiva, espetáculo de música minimalista assinado pelo veterano Philip Glass, presença constante em momentos de leitura, escrita, reflexão, etc. 

Frederico Franco

O cinema está presente em minha vida desde os primórdios de minha existência. Com menos de cinco anos fui ao cinema pela primeira vez – a experiência, no entanto, foi traumática: tamanho era o choro que minha família teve de me retirar da sessão. Mais de uma década depois, o medo inicial tornou-se paixão. Aos quatorze anos iniciei minha aventura cinéfila que perdura até hoje. Comecei a entender a sétima arte como algo além do simples lazer aos dezesseis anos, quando decidi cursar cinema ao invés de direito. No último ano da faculdade, 2020, concluo: não sei o que é o cinema. Nas palavras de Jean-Luc Godard, um dos mestres que me guiaram ao básico do conhecimento cinematográfico: “o cinema não é arte, não é técnica, é um mistério“.

Definir dez filmes e apontá-los como favoritos é uma tarefa árdua. A primeira versão dessa lista contava com cinquenta obras, as quais tenho enorme apreço e que foram fundamentais para construir meu repertório cinematográfico. É difícil apontar um critério para definir quais filmes estariam na lista; no entanto, o impacto inicial e a capacidade da obra em questionar ideias sobre a arte do cinema como um todo foram aspectos decisivos. Ainda, decidi não repetir diretores, listando, assim, dez filmes de diferentes realizadores. Há 5 anos, no período de minha iniciação cinéfila, 2001: Uma Odisseia no Espaço e Acossado facilmente estariam na lista. Há 2 anos, O Discreto Charme da Burguesia e Profissão: Repórter também comporiam a relação. Daqui 10 anos, nenhum dos filmes citados pode se fazer presente em outro desses exercícios. Essa é a magia do cinema; ao longo dos anos, os mesmos filmes causam diferentes impactos e sensações. Agora, à lista.
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Limite

Limite | Mário Peixoto | ?? 1931

Mário Peixoto teve um curta carreira cinematográfica. Produziu apenas um filme: Limite, uma obra-prima do cinema brasileiro. O solitário filme do diretor belgo-brasileiro conta três histórias distintas que se interligam pelo estado emocional dos protagonistas. Por mais que proponha um ritmo cadenciado de sua narrativa, Peixoto apresenta traços similares àqueles de Ingmar Bergman, como o recorrente uso de close shots em momentos de perturbação e a delicadeza do gesto humano perante a câmera. Com inúmeros flashbacks pouco delimitados, Limite expõe linhas temporais que se misturam e que não fazem questão estético-narrativa de introduzir ao espectador tais rupturas. Sua temática forte, aliada a meticulosa mise en scène de Mário Peixoto, é capaz de causar náuseas sartreanas e, talvez, cansaço ao espectador.

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Window Water Baby Moving

Window Water Baby Moving | Stan Brakhage | ?? 1959

Nunca na história um parto fora tão simbólico e poético quanto em Window water baby moving. Enquanto sua mulher estava grávida, o mestre do cinema experimental Stan Brakhage documenta os últimos dias da gravidez de sua esposa. Com ênfase na poesia e no lirismo, o diretor apresenta um ensaio sobre a vida. Brakhage utiliza planos intrusivos de sua esposa se contraindo, dilatações vaginais e, por fim, a própria criança vindo à vida. O diretor rememora os momentos de angústia pré-parto, justapondo-os à agonia de sua mulher agarrando sua mão enquanto dá à luz. Contrapondo imagens da plenitude e ansiedade da paternidade com a angustiante dor e sacrifício do parto, Brakhage desenvolve um bela dialética sobre o prazeres e dificuldades de ser pai. Sem nenhuma intervenção sonora, o processo do parto fica cru, despido de quaisquer intermediários externos.

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Blow-Up – Depois Daquele Beijo

Blow-Up | Michelangelo Antonioni | ?????? 1966

Diversas sinopses categorizam Blow-Up como um filme de mistério ou até mesmo suspense, devido ao simples fato de um assassinato marcar um ponto da obra. No entanto, a película de Michelangelo Antonioni segue a linha de dramas existenciais de seus filmes anteriores. Farto de viver em um mundo repleto de artificialidade, Thomas, um renomado fotógrafo de moda, acaba ficando perplexo com uma fotografia de um possível assassinato. Perseguido por modelos e por uma misteriosa mulher, Thomas acaba cada vez mais apático quanto a seu mundo de trabalho. Antonioni constrói uma atmosfera baseada na criação de expectativa, potencializando ações triviais que, ao final da obra, apresentam-se como eventos fortuitos da vida do protagonista.

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Wavelength

Wavelength | Michael Snow | ???? 1967

Wavelength me foi apresentado durante aulas de cinema experimental na faculdade. Hoje, contabilizo cinco assistências dessa que considera a maior obra cinematográfica já realizada na história. Michael Snow é um artista único. Desde seus trabalhos plásticos até sua filmografia, o autor apresenta uma ideia ímpar sobre o veículo cinematográfico e, sobretudo, sobre os limites da visão e da percepção humana. Em Wavelength, um zoom que dura quarenta e três minutos ocupa a totalidade do filme. Sendo considerado um estudo metalinguístico, o filme de Snow cria uma mise en scène única que, além de despertar a consciência do espectador sobre as especificidades do aparato cinematográfico, desenvolve um experiência sensorial ímpar.

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Morte em Veneza

Morte a Venezia | Luchino Visconti | ???? 1971

Se em Crítica da Faculdade de Juízo Immanuel Kant estudou o belo, Visconti leva esses estudos para as grandes telas de cinema em Morte em Veneza. Em meio a uma epidemia de cólera, um renomado compositor se hospeda em um luxuoso hotel onde acaba se encantando com a beleza de um jovem garoto. Ao contrair a doença, o protagonista parece ter um único fio que o mantém preso à vida: sua paixão pelo adolescente. Luchino Visconti utiliza-se de uma linguagem suave, com planos longos e descritivo, evitando bruscos movimentos de montagem – podendo representar a epifania sentida pelo compositor. Com sutis olhares e uma câmera que persegue o objeto de olhar do protagonista, o filme do diretor italiano é uma adaptação que potencializa e ressignifica a obra homônima de Thomas Mann.

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A Terça Parte da Noite

Trzecia część nocy | Andrzej Żuławski | ?? 1971

A nouvelle vague polonesa é marcada por retratar o horror da Segunda Guerra Mundial e suas consequências para o futuro do país. Em sua maioria, os filmes flertam com o grotesco para, através de metáforas, exprimir denúncias contra a violência cometida pelos soldados do Terceiro Reich. Andrzej Żuławski é um dos expoentes dessa vertente do cinema moderno e, em A Terça Parte da Noite, leva ao extremo as definições de violência. Após perder sua família, Michael junta-se à resistência contra soldados nazistas e encontra-se envolto em uma enigmática jornada de experimentos científicos. O diretor não tem pudor algum em lançar o espectador diretamente em chacinas por meio de planos invasivos, aproximando a câmera do rosto dos personagens com o uso de distorções de lente. Atuações exageradas que bebem da fonte do teatrólogo Jerzy Grotowski, auxiliam a compor uma mise en scène perturbadora, dando um caráter repugnante ao mundo no qual o filme está inserido.

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Verdades e Mentiras

F for Fake | Orson Welles | ?????? 1973

O cinema moderno tem seu início em uma obra de Orson Welles: Cidadão Kane. Seria ousado demais dizer que Verdades e Mentiras representa um divisor de águas no documentário? Talvez, mas mesmo assim, documentário (?) de Welles é um prato cheio para entusiastas da metalinguagem e das relações entre diretor e espectador. Instaurando debates acerca da confiabilidade do narrador, o filme de Orson Welles é sobre farsas. O protagonista é um falsificador de arte, Elmyr de Hory, e, portanto, criam-se questionamentos a respeito da labuta artística: quem é capaz de definir o que é arte e o que não é? Em uma de seus principais momentos, o diretor convoca o espectador a pensar nos motivos de um falsificador de arte não ser considerado um artista stricto sensu. Para ele, os reais falsificadores no mundo das artes plásticas são os curadores incapazes de distinguir um quadro autêntico e uma falsificação.


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A Bela Intrigante

La Belle Noiseuse | Jacques Rivette | ???? 1991

Jacques Rivette marcou época durante a nouvelle vague francesa, mas o ápice de sua realização audiovisual se encontra em A Bela Intrigante. Ao longo de quatro horas acompanhamos a saga de Frenhofer, renomado pintor, em busca de inspiração para o desenvolvimento de sua obra-prima intitulada “A Bela Intrigante”. Encontrando sua musa na figura de Marianne, uma jovem amiga de sua mulher, o protagonista se vê obcecado por seu projeto artístico. Aqui, o espectador é jogado para dentro do ateliê do pintor, encenado com um preciso chiaroscuro e um sutil jogo de câmeras que dá valor aos gestos imprecisos do artista, criando um caráter misterioso ao local. Aproximando cinema e pintura, Rivette dialoga com o filme de Orson Welles ao desenvolver recortes críticos acerca da autoria e da representação imagética do real.

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O Pântano

La Ciénaga | Lucrecia Martel | ???????? 2001

Lucrecia Martel é um ícone do novíssimo cinema argentino. Cotada para dirigir produções da Marvel, a diretora imprime um estilo que foge do usual. O Pântano é seu longa de estréia e já delimita uma estética seguida pela diretora em suas obras. Aqui, uma família de classe média enfrenta um forte calor e um episódio de acidente doméstico. Adolescentes e adultos entram em conflito enquanto buscam uma resolução para o problema. Martel desenvolve um universo letárgico por meio de sua auto-intitulada montagem-memória, que se baseia a partir das ações dos personagens, não buscando uma fluidez clássica. Flertando com o místico, a diretora parece deixar os espectadores distante da família, escondendo seus segredos e criando uma atmosfera de mistério.

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O Mundo

Shijie | Jia Zhangke | ?????? 2004

Integrante de uma nova onda do cinema chinês dos anos 1990, Jia Zhangke tem em O Mundo a obra que melhor sintetiza suas principais aspirações dentro do mundo do cinema. Tendo visto ao longo de sua vida uma massiva modernização de seu país, o cineasta aborda as dores e as delícias de uma vida moderna, tecnológica. No filme aqui tratado, Zhangke nos apresenta a funcionários de um parque aos moldes do Epcot Center, onde os visitantes passeiam por diversas releituras de pontos turísticos ao redor do globo. A partir de uma mise en scène que apresenta os choques do novo e do antigo, do real e da representação, O Mundo consegue dar conta dos principais dilemas do mundo contemporâneo: a incomunicabilidade, a solidão e os novos meios de comunicação. 

Rodrigo Pereira

Difícil definir exatamente quando tive meu primeiro contato com cinema, é uma relação que existe desde quando consigo me lembrar. Boa parte da minha minha infância e adolescência foi assistindo e, em alguns casos, reassistindo filmes incontáveis vezes (alô, Toy Story!).

O fascínio e a compreensão da grandeza da arte, no entanto, é mais recente e costumo atribuir a sessão de A Chegada como o grande divisor de águas nessa relação. Foi a primeira vez que senti, de fato, a emoção de uma forma que somente o cinema é capaz nos apresentar. Depois daquele dia, a única coisa que sabia é que precisava compreender a sétima arte ao máximo, e é o que venho tentando fazer desde então.

Portanto, decidir meus filmes favoritos é uma tarefa das mais ingratas (a culpa é toda do Luiz Santiago por organizar isso) e que me fez entregar a lista no prazo limite. Foi muito difícil escolher somente dez obras e muitas que amo ficaram de fora, além de outras recém assistidas terem entrado de última hora. Enfim, eis meus prediletos.
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Tempos Modernos

Modern Times | Charles Chaplin | ?? 1936

Eu não costumo rir com filmes de comédia. Na verdade, qualquer obra que se encaixe nesse gênero é difícil me fazer rir. Eu gosto, me divirto, mas dificilmente rio. Tempos Modernos é uma das poucas capazes de fazer isso comigo e ainda diversas vezes. Adoro a arte de Chaplin em geral, é um dos meus diretores favoritos e não poderia deixar algo dele de fora dessa lista (apesar da dificuldade em escolher esse representante).

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Era uma Vez no Oeste

Once Upon a Time in the West | Sergio Leone | ???? 1968

Por conta desse filme e da Trilogia dos Dólares, Leone é um dos meus diretores favoritos. Mesmo que ame os três filmes protagonizados por Clint Eastwood, Era Uma Vez no Oeste é para mim a obra prima do italiano. Toda a sua técnica apresentada em sua forma mais plena compondo uma história com intrigas, reviravoltas e vingança ao som magistral de Ennio Morricone.

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2001 – Uma Odisseia no Espaço

2001: A Space Odyssey | Stanley Kubrick | ???? 1968

A primeira vez que assisti a essa maravilha de Stanley Kubrick lembro de ter sido em minha casa e gostei bastante, mas tinha a impressão de não ao ponto da adoração que tantas pessoas têm pela obra. Foi somente após uma revisita, aí em uma sala de cinema, que me entreguei completamente.

Tudo o que parecia me incomodar durante a primeira tentativa começou a fazer completo sentido e fiquei maravilhado com o nível de imersão que a obra nos coloca. Só alguém do porte de Kubrick para traçar a história de evolução de nossa raça de forma tão incrível.
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O Poderoso Chefão

The Godfather | Francis Ford Coppola | ?? 1972

Diferente de muitas pessoas, considero todos os três filmes de O Poderoso Chefão de igual nível, o que me trouxe um dilema na hora que pensei nessa lista: qual dos filmes selecionarei? Minha vontade era colocar a trilogia inteira, mas isso ocuparia dois espaços e tornaria a tarefa ainda mais difícil. Portanto, acabei selecionando o primeiro por ser a abertura desse universo espetacularmente dirigido por Coppola e essencial para quem ama cinema.
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Verdades e Mentiras

F for Fake | Orson Welles | ?????? 1973

Orson Welles não é um dos grandes da história do cinema à toa. Ainda que filmes como Cidadão Kane, A Dama de Shangai e Macbeth sejam de muita qualidade e frequentemente citados entre suas as principais obras, minha favorita é Verdade e MentirasLançado em 1973, esse documentário é dirigido de forma tão magistral por Welles que ficamos totalmente entregues a sua narrativa. Acreditamos no que ele quer que acreditemos e é incrível como ele parecer ter total domínio não só da arte, mas também da plateia, como se brincasse conosco a sua maneira. Além de meu predileto do diretor, é também meu documentário favorito da vida e, acreditem ou não, cabe muito bem para a época de produção em massa de fake news que vivemos.

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Amor à Flor da Pele

Faa Yeung Nin Wa | Wong Kar-wai | ???? 2000

Esse foi um acréscimo bastante recente a minha lista de filmes favoritos. Assisti pela primeira vez em torno de uma semana antes de escrever esse texto. O que o fez assumir um status de predileção tão grande e tão rápido é a forma como Wong Kar-wai nos expõe essa história de amor. Nunca vi uma direção tão sensível e que abordasse o amor de uma maneira tão encantadora e, ao mesmo tempo, tão triste. Ainda que os sentimentos das personagens estejam cristalinos como a mais pura água, tudo o que os envolve, tanto pessoal quanto socialmente, impede que tornem realidade o seu mais ardente desejo. Um amor recíproco, porém descompassado.

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Memórias de um Assassino

Salinui Chueok | Bong Joon-ho | ?? 2003

Se Parasita é minha obra favorita do primeiro sul-coreano vencedor do Oscar de Melhor Filme, Memórias de Um Assassino vem logo atrás. Já ouvi e li em alguns lugares que essa seria a versão de Bong Joon-ho para Seven, de David Fincher. E, realmente, o filme lembra o de Fincher, com a diferença que é melhor. Quem assistiu, sabe. Quem não assistiu, assista e comprove.

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A Chegada

Arrival | Denis Villeneuve | ???? 2016

Como citado na introdução, esse é o grande responsável pelo meu crescente interesse por tudo o que representa o cinema. A premissa de utilizar alienígenas como forma de discutir questões como comunicação e diferenças culturais, tanto entre humanos quanto entre raças planetárias distintas, é maravilhosa graças a excelente direção de Villeneuve.

Além de construir um profundo arco narrativo para a doutora Louise Banks (Amy Adams), que traz a emocionante relação da personagem com sua filha ao mesmo tempo que questiona nossa concepção de tempo e escolhas que fazemos durante a vida. Favorito da minha vida até hoje.
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Parasita

Gisaengchung | Bong Joon-ho | ?? 2019

Mesmo que já tenham passado meses desde que assisti Parasita no cinema, a emoção que a obra causou em mim continua vivíssima. Lembro de ter ficado em torno de 10 minutos ofegante e com coração acelerado após o término da sessão, tamanho o impacto sentido. Assim como Leone em Era Uma Vez no Oeste, aqui vemos Bong Joon-ho apresentando seu melhor, em um filme imprevisível, lotado de críticas sociais e com excelentes atuações.

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O Irlandês

The Irishman | Martin Scorsese | ?? 2019

Martin Scorsese provavelmente foi o primeiro diretor que ocupou o lugar de favorito entre todos para mim. Sou um grande admirador de sua obra e, ainda que não tenha visto toda sua filmografia, é um dos realizadores que mais assisti em minha vida.

Era óbvio, portanto, que ao menos um de seus filmes marcasse presença por aqui. O Irlandês parecia a escolha mais acertada, devido a sua abordagem reflexiva não só de sua individualidade, mas também de todo o seu legado. Tinha dificuldade em escolher meu favorito do nova-iorquino, mas isso foi antes do lançamento desse aqui.

Fernando Campos

Muito antes de saber que o cinema é a sétima arte, filmes faziam parte da minha vida. Na infância, os programas dos meus fins de semana envolviam assistir filmes. Ou eu ia ao cinema com minha mãe, para assistir alguma animação ou filme infantil da época, ou visitava alguma locadora na sexta-feira para alugar filmes e jogos, era o melhor dia porque só precisava devolver as fitas na segunda. A primeira lembrança que tenho em uma sala de cinema é assistindo Toy Story 2, com minha mãe. Com os anos, fui me aprofundando, aprendendo e estudando, mas a base está na minha infância. Além disso, o carinho por cinema me aproximou de pessoas que quero ter por perto para sempre em minha vida, como o Luiz. Então, filmes me trouxeram conhecimento, sentimentos e amizades. Ainda que eu tenha momentos que veja poucas obras, me imagino uma pessoa triste sem esse hábito. Faz parte de mim. Faz parte do que sou.
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Três Homens em Conflito

Il Buono, il Brutto, il Cattivo | Sergio Leone | ?? 1966

Hoje, western é um dos meus gêneros preferidos, mas demorei a dar uma oportunidade para esses filmes. Porém, quando isso finalmente aconteceu, tive sorte de começar por Sergio Leone, graças a insistência de uma amiga. Três Homens em Conflito foi a primeira obra-prima de velho oeste que assisti e me encantei imediatamente. Acredito que seja uma obra que mostra com clareza como histórias teoricamente simples podem ser contadas com maestria graças a um trabalho estupendo de direção.

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O Poderoso Chefão

The Godfather | Francis Ford Coppola | ?? 1972

Assim que comecei a querer aprender sobre cinema, um dos primeiros filmes que busquei foi O Poderoso Chefão. Lembro até hoje a sensação que tive no término, a de ter acompanhado algo absolutamente perfeito. Creio que ali realmente me apaixonei por cinema, foi a consumação.
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Rede de Intrigas

Network | Sidney Lumet | ?? 1976

Vi Network quando comecei a cursar jornalismo. No início do curso, creio que todos os estudantes têm uma visão idealizada sobre a área, mas vamos desconstruindo aos poucos, pelo menos os que buscam senso crítico. Portanto, o filme de Lumet foi um verdadeiro soco no estômago na época, mostrando o lado tóxico e destrutivo da mídia e da indústria da informação. Aliás, sempre que revejo, me impacta. Considero um dos meus favoritos por isso.

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Os Bons Companheiros

Goodfellas | Martin Scorsese | ?? 1990

Scorsese foi o primeiro diretor que maratonei a filmografia completa e, apesar de considerar Taxi Driver seu melhor filme, Os Bons Companheiros certamente é o que mais me cativa e entretém. Acho a obra brilhante e cativante porque mostra como um longa pode ser “pop” e estilizado, mas sem perder o valor artístico. Não estou dizendo que foi Scorsese quem inaugurou isso, mas foi com ele que aprendi, justificando a presença na lista.

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Feitiço do Tempo

Groundhog Day | Harold Ramis | ?? 1993

Feitiço do Tempo é uma “lição de moral” precisa pra mim. Em alguns momentos, sou uma pessoa rabugenta e chata, preciso admitir. Por isso, por mais que não seja fã de feelgood movies, esse filme me convenceu de algo importante: por mais que um dia esteja uma porcaria, eu posso torná-lo melhor. Assistir o mau-humorado Bill Murray aprendendo isso na marra rendeu deliciosas risadas e essa preciosa lição, tornando-se minha comédia preferida. Claro que nem sempre eu consigo colocar em prática, mas me esforço.

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Ondas do Destino

Breaking the Waves | Lars Von Trier | ?? 1996

Lars Von Trier é um dos meus diretores preferidos e, apesar deste não ser seu filme mais comentado, considero o melhor de sua filmografia. Temas recorrentes na obra dele, como fé, melancolia e o valor por trás de gestos de sacrifício, estão presentes aqui, mas sem a pretensão exagerada de alguns filmes. Se tivesse que indicar apenas um filme deste diretor que admiro, certamente seria esse.

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O Show de Truman: O Show da Vida

The Truman Show | Peter Weir | ?? 1998

Assisti Show de Truman na adolescência e foi esse filme que me fez buscar críticas de cinema. Além de ter adorado a história, quando terminei, senti que havia várias metáforas e interpretações no enredo, me incentivando a procurar textos sobre. Ou seja, teve um papel fundamental em me fazer pensar cinema além do que aparece explícito na tela.

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Antes do Pôr-do-Sol

Before Sunset | Richard Linklater | ?? 2004

É raro eu chorar com filmes. Não que eu tenha algo contra chorar, mas simplesmente não acontece comigo. Porém, Before Sunset me desidratou. A beleza do filme, a direção sensível de Linklater e o trabalho tocante do casal de atores, misturado com lembranças que tive assistindo, me emocionaram bastante. Nenhum romance me atinge tanto quanto esse.

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O Segredo dos Seus Olhos

El Secreto de sus Ojos | Juan José Campanella | ?? 2009

Assisti esse filme pela primeira vez com meu grande amigo Rodrigo Pereira em uma aula na faculdade sobre América Latina. Depois da sessão, tivemos uma ótima discussão com um dos nossos professores preferidos e, depois da aula, continuamos o assunto no bar, um dos nossos locais preferidos. Considero o longa uma obra-prima, Darin um ator brilhante e fico impactado com a abordagem sobre traumas, mas tenho carinho também pelo contexto que vi.

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Dúvida

Doubt | John Patrick Shanley | ?? 2008

Minha família sempre foi religiosa e Dúvida surgiu em minha vida justamente em um momento que eu estava repleto de dúvidas sobre religião. O filme conta com um elenco espetacular, especialmente o saudoso Phillip Seymour Hofman, e a atmosfera melancólica imposta por Shanley é impressionante. Mas o que me fez apegar ao filme foram as reflexões sobre fé que surgiram a partir dele.

Davi Lima

A cinefilia, como qualquer filos imediatista e exacerbado sem controle de imposição social, se tornou algo execrado, sinônimo de algo pejorativo. Uma pena que não me inclua nessa denominação, pois me denominaram assim, não eu que escolhi. Foi a minha própria irmã que uma vez trouxe esse nome à tona, a mesma mestra do cinema que me intrigava pela avidez de assistir filmes de terror e comédia romântica numa proporcionalidade quase paradoxal. Aceito a carteirinha de cinéfilo por isso, ela me categorizou assim após ver meu olhar encantado pelo cinema, pela ânsia de expor comentários sobre filmes, nunca deixando uma experiência passiva ser contida na luz acesa, sendo ativo em transpor e confrontar aquela simulação vista com a realidade que vivemos. Assim me considero um cinéfilo desde sei lá quanto, mas foi em algum período do Oscar quando eu e minha irmã criamos um universo cinéfilo, até hoje.

Deixo uma frase aleatória, porém que me fez dar valor a cinefilia, como minha irmã enxergou em mim: “Não existe filme antigo. Existe apenas filme que você ainda não viu.” – Pauline Kael
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A Palavra

Ordet | Carl Theodor Dreyer | ?? 1955

Numa descrição simplista demais para um filme tão grande, pode-se dizer que é um teatro cinematográfico cristão que contém o milagre estático no movimento do cinema. Se você não acreditar nesse filme ou você não tem fé, ou ainda precisa compreender a misticidade do tempo cinematográfico que a imagem trabalhada por um diretor pode influir. Porém não se sinta pressionado, sem dúvida existem outros filmes que a sua fé vai ser reascendida, ou abalada para que você creia que existe algo além do que se vê pelos olhos, no entanto garanto que essa obra dinamarquesa é transcendental demais para ser ignorada.

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Lawrence da Arábia

Lawrence of Arabia | David Lean | ?? 1962

Cada filme é único, essa é minha crença. Até a obra mais reciclável e medíocre é única em si. Então posso afirmar que nunca no cinema irão tornar o deserto tão sublime como David Lean tornou. A definição do épico pessimista e humano está contido completamente nessa obra do protagonista branco conquistador que não compreende seu lugar. Como sou fã de Spielberg, que também era fã desse filme e de David Lean, indico o filme Império do Sol caso não queira ver mais de 3h de uma aventura na Arábia que vai mudar sua vida. Mas nada será comparada a profundidade imagética captada em cada cena do deserto desse filme. Não é poético, é sobrenatural. O crítico Roger Ebert quando tentou descrever como esse filme se tornava mais mágico dentro do cinema foi o que me fez ansiar assistir a obra de Lean além do conforto da minha sala. Como uma benção o meu pedido a Deus foi atendido, e ouvir o tema sonoro de Maurice Jarre com planos super abertos com aquele deserto escaldante no cinema foi como o corte clássico, histórico, presente no filme: ascende o fósforo e ao soprar o fogo o sol nasce na cena seguinte. Essa é a ideia.

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2001 – Uma Odisseia no Espaço

2001: A Space Odyssey | Stanley Kubrick | ???? 1968

O clássico dos clássicos. Como você pode se impressionar com uma tela preta, apreciar um balé de naves de movimento lento e ritmado, e compreender a humanidade através de um robô personificado por uma luz e uma voz. Constata nesse filme como clássico nunca fica velho.

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Contatos Imediatos do Terceiro Grau

Close Encounters of the Third Kind | Steven Spielberg | ?? 1977

Para quem é fã do Steven Spielberg é difícil escolher um filme favorito, especialmente para representar simbolicamente. Eu poderia ter escolhido Jogador Número 1, um vislumbre recente de quem é essa grande diretor para mim, mas escolho o que recentemente considero a tradução a magia emocional, transcendente e inocente de Spielberg. Esse filme lançado no mesmo ano de Star Wars é o paradoxo inevitável do suspense inocente, daquilo que te deixa uma ânsia por descobrir o desconhecido que é tudo explicado apenas, realmente apenas na imagem. Não há verbalização, ou se encanta por tudo aquilo ou trata como uma loucura intrigante. Fico com o encanto pelo contato, um contato de terceiro grau que revela aspectos da realidade que a imagem desse configura em alienígenas e som visual, mas é muito mais que isso.

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O Império Contra-Ataca

The Empire Strikes Back | Irvin Kershner | ?? 1980

Se o primeiro Star Wars de 1977 é a porta de entrada para uma ópera espacial de cultura própria, rearranjando inspirações dentro de uma narrativa clássica, a sequência é para quem realmente estava preparado para adentrar na galáxia muito distante, há muito tempo atrás. Cada espaço, cada cenário é importante para se ter o impacto de um novo mundo. Tudo se torna palpável e tudo se torna conectado. O grande plot twist do filme é isso, é o final máximo da aproximação do fã, ou o afastamento de quem espera um mero entretenimento. Em um filme que seus heróis são perseguidos, O Império Contra-Ataca é o desafio máximo para que se compreenda o porque cada frase do Mestre Yoda faz sentido. “Faça ou não faça, tentativa não há“.

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Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos

Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos | Marcelo Masagão | ?? 1999

Esse é um filme recente na minha lista de favoritos, porque meu amor pela História foi reafirmado há pouco tempo. Foi nesse filme que encontrei a bela tristeza de observar nesse documentário a transformação do século 20. Dentro da história a questão do tempo é bem mais intrigante do que um De Volta Para o Futuro, mesmo que ame esse filme também. O diretor Masagão retrata bem isso, desde do seu título ao retrato real da história por imagens e frases que moldaram um mundo de maneira tão rápida e lenta simultaneamente quando se assiste o filme.

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Moulin Rouge – Amor em Vermelho

Moulin Rouge | Baz Luhrmann | ?? 2001

O amor sem cinismo, o amor apaixonado, o amor amor. “Amor é oxigênio”, diz o protagonista interpretado por Ewan Mcgregor. O poeta, o boêmio, se apaixona por uma cortesã que descobre o amor além de uma noite. Numa sensualidade absurda com um musical confrontante com quem tem algum desvio com o gênero, Baz Luhrmann iniciou o século XXI matando anacronismos ou imposições temporais. Com Medley, com o tempo clássico e músicas modernas de Cristina Aguilera, é o musical que vai buscando o amor eterno, que valha a pena de maneira que nem é possível acreditar que ainda existe. Esse foi um dos filmes que minha irmã me apresentou e não canso de me apaixonar outra vez pela superação moral, o conserto humano em prol do amor vivo em cada cor vermelha.

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Os Incríveis

The Incredibles | Brad Bird | ?? 2004

Nós Somos Super-heróis, o que pode acontecer?“. A frase da Helena é conflito apoteótico do filme, verbalizado numa cerimônia de casamento. Eis um filme que vai desestruturar e reestruturar as instituições, a civilidade e o heroísmo num mesmo pacote dramático e reflexivo sobre como o incrível é bem mais que os poderes, é a família unida e conhecedora de si mesma. Sem dúvida um filme favorito para um ser como eu que valoriza a família como uma célula mater genuína, não como um artifício sociológico ou desculpa conservadora para defender politicagem. Mesmo dentro de uma dinâmica estadunidense, em Os Incríveis os princípios familiares são exercitados com louvor dentro da cultura nerd de super-heróis, dos quadrinhos a seriedade da vida civil.

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Homem-Aranha 2

Spider-Man 2 | Sam Raimi | ?? 2004

Fiquei na dúvida se Corpo Fechado não seria um representante melhor entre meus filmes favoritos para retratar o heroísmo e o meu amor pelas HQs. Só que Sam Raimi, diferente de Shymalan desvendou como pegar as artes de Alex Ross e transformar em cinema. Não apenas isso, pegar a antiquada dramaticidade de Stan Lee e o aspecto dos anos 60 e 80 do heróis e transpor o princípio ali para perspectivas atemporais do heroísmo do aracnídeo. O tempo passa e Homem Aranha 2 vai se tornando melhor, não porque os tempos são difíceis e é bom lembrar do herói que nos salva, e sim porque o Peter Parker é o que cara que vence os momentos difíceis, mesmo quando sua história termina triste no olhar de Mary Jane. Favorito da vida.

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Amor a Toda Prova

Crazy, Stupid, Love | Glen Ficarra, John Requa | ?? 2011

As comédias em geral são confortáveis, mesmo aquelas que te deixam com vergonha por uma comédia absurda demais para deixar os olhos abertos. Mas o que me encanta com esse filme de um elenco recheado de estrelas é como a coincidência confortável se revira numa explosão cômica de quebrar a expectativa na forma de atuação do conjunto. Até hoje fico perplexo como a risada permanece mesmo sendo tudo previsível, nas conexões tão involuntárias, nas paixões descontroladas que vão se acertando para compreender os verdadeiros amores. Eis a magia de um bom filme de comédia, não apenas uma cena, mas o filme continuar sendo tão engraçado como a primeira vez, como se a quebra de expectativa, o humor, nunca morresse em cada experiência.

Marcelo Sobrinho

Minha história com o cinema se inicia na adolescência junto com minha paixão pelas artes como um todo. Iniciei meus estudos de piano, minha paixão pela literatura e minha obstinação por entender mais da linguagem cinematográfica nessa época e mantenho todos esses elementos vivos em minha vida até hoje. Meu primeiro amor na sétima arte foram provavelmente os filmes de Chaplin, desde O Garoto, passando por Em Busca do Ouro e culminando certamente em O Grande Ditador. Depois da lenda norte-americana, muitos diretores se tornaram alvo do meu interesse e muitas filmografias ganharam a minha atenção. De todos os cineastas vivos, creio não ser segredo para ninguém quem é o meu predileto – o dinamarquês Lars von Trier e sua investigação sui generis sobre o mal-estar da existência, ainda que desvelado da forma mais prazerosa – com cinema da mais alta qualidade.
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Cidadão Kane

Citizen Kane | Orson Welles | ?? 1941

A grande obra de Orson Welles contém muitos elementos que a tornam um dos momentos mais gloriosos do cinema, desde a montagem inovadora da abertura ao uso revolucionário dos ângulos de câmera em plongée e contra-plongée. O diretor norte-americano conta uma história atemporal sobre sentido da vida, poder e felicidade em um mundo, naquela época, já bastante acelerado e alienado. Apresenta o maior dos enigmas da história do cinema – “rosebud”. Obra fundamental para que estudantes e amantes da sétima arte entendam a evolução de sua linguagem. Cidadão Kane foi uma das maiores aulas de cinema a que já assisti.
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O Grande Ditador

The Great Dictator | Charlie Chaplin | ?? 1941

É um tanto irônico que o grande filme de Chaplin para mim seja de sua fase “pós-Carlitos” – um dos personagens mais importantes e fundamentais da história do cinema. Mas a história do barbeiro judeu, sósia do ditador da Tomânia – Adenoid Hinkel –, foi fundamental em minha adolescência, quando eu estava estudando a história do século XX e a barbárie nazista. Foi uma experiência inesquecível assistir a uma obra produzida naquela época e já notar a argúcia de Chaplin ao desvendar não só o crescimento do monstro, mas também um dos melhores antídotos para neutralizá-lo: o humor que transformava mitos em “tigres de papel”.

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Viver

Ikiru | Akira Kurosawa | ?? 1952

Com forte sabor tolstoiano, o filme do diretor japonês Akira Kurosawa é um manifesto poderosíssimo sobre a responsabilidade individual frente à existência. O funcionário público que protagoniza o longa-metragem faz uma travessia kafkiana pela vida terrena e, após o diagnóstico de uma doença terminal, passa a refletir sobre a morte e sobre a sua obra em vida. A melancólica cena do balanço permanece como uma das minhas prediletas dentre tudo a que já assisti. Quando penso no tema da finitude no cinema, é ela que sempre me vem à mente.

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Dr. Fantástico

Dr. Strangelove | Stanley Kubrick | ?? 1964

Após assistir aos dois maiores arrasa-quarteirões kubrickianos, 2001: Uma Odisseia no Espaço e Laranja Mecânica, decidi experimentar a faceta mais rara do rigorosíssimo diretor – a da comédia satírica. O que encontrei em Dr. Fantástico foi um dos dois melhores exemplares do gênero no cinema. Cenas como a da máquina de coca-cola são hilárias ainda hoje, pois ironizam o capitalismo com a mesma atualidade daquela época. Peter Sellers, vivendo três personagens, é hors concours. Mas o grande momento do filme para mim permanece sendo a cena do cowboy montado na bomba, composição visual definitiva do alucinado político. Capaz de tudo.

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2001 – Uma Odisseia no Espaço

2001: A Space Odyssey | Stanley Kubrick | ???? 1968

Ainda me lembro claramente da emoção que me despertou o início desse filme. Kubrick inicia sua magnum opus de forma instigante – estamos nos primórdios da humanidade, em condições hostis à sobrevivência da espécie. Em meio a caçadas e lutas contra bandos inimigos, um de nossos ancestrais descobre em um fêmur caído no chão uma ferramenta e uma arma para vencer seus adversários. O momento em que o hominídeo descobre nossa primeira tecnologia é impulsionado pelos harmônicos da introdução de Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, poema sinfônico baseado na obra homônima de Friedrich Nietzsche. Para mim, do começo ao fim, esse é o ápice a que o cinema chegou. A arte em estado de glória.

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Apocalypse Now

Apocalypse Now | Francis Ford Coppola | ?? 1979

Apocalypse Now foi um dos filmes que mais tempo eu levei para digerir. É, em tudo, um filme de guerra nada convencional. Após assisti-lo duas ou três vezes, pude concluir que ele transcende muito o próprio gênero e a temática que se coloca a priori. Por não ser exatamente um filme sobre a guerra, como afirmo decididamente em minha crítica, ele se tornou o meu “filme de guerra” favorito por se debruçar brilhantemente sobre um ponto que me interessa muito mais que o conflito em si – a barbárie contida em cada um de nós. Uma vizinha que nos olha pela fresta da porta. Além de tudo, uma das mais cinematografias prediletas.

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Touro Indomável

Raging Bull | Martin Scorsese | ?? 1980

A história do boxeador Jake LaMotta é um dos auges da carreira de Martin Scorsese. Contando com a interpretação monumental de Robert De Niro no papel principal, o diretor nova-iorquino constrói uma fábula sobre poder, ascensão e queda de um homem. A fotografia em preto e branco é das mais belas que conheço e o famosíssimo monólogo do protagonista dentro de sua cela escura, em um jogo de luzes e sombras sublime, é um dos grandes momentos da carreira de Scorsese. Foi, decididamente, o filme do norte-americano que mais me impressionou.

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Dogville

Dogville | Lars von Trier | ?? 2003

Dogville foi o primeiro filme de Lars von Trier a que eu assisti. Fui motivado especialmente pelos comentários de colegas que enalteciam as peculiaridade do longa-metragem, especialmente seu cenário minimalista e brechtiano. O que encontrei foi um filme de conteúdo bastante complexo, mas que, seguindo uma tradição de ceticismo iniciada em Europa, batia pesadamente na ideia do bem e da salvação pela política. Dogville é uma experiência única para qualquer cinéfilo e comigo não foi diferente. Mas vou além. Para um cético como eu, encontrar na tela um ceticismo tão bem abordado e destilado com tanta acidez é algo que o torna especialíssimo.

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A Fita Branca

Das Weisse Band | Michael Haneke | ?? 2009

O trabalho precioso de Michael Haneke com seus quadros estáticos e com a brutalidade imaginativa do extra-campo me impactou em A Fita Branca como em nenhum outro de seus filmes. Acompanhar o nascimento desse mal dentro de uma pequena vila do início do século XX é algo que recomendo a todos os cinéfilos. Tantos filmes já foram realizados sobre o nazismo. Alguns verdadeiramente brilhantes, como O Ovo da Serpente, de Bergman e Os Deuses Malditos, de Visconti. Mas A Fita Branca, exatamente por falar do nazismo sem tratar diretamente dele, é uma inspeção histórica que me causou muito maior espanto. Um dos filmes mais assustadores que conheço. De um dos meus diretores prediletos de hoje e de sempre.

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Melancolia

Melancholia | Lars von Trier | ?? 2001

O que dizer de um prólogo construído por uma super câmera lenta e impulsionado pelos cromatismos da abertura da ópera wagneriana Tristão de Isolda? O início de um filme grandioso de Lars von Trier, que consegue manter o tom grandiloquente até o fim para tratar do vazio. Vazio que pode nos ameaçar a existência, como um planeta maldito na iminência de colisão com a Terra, mas que pode ser valioso num processo de esvaziamento de significados que, em uma instância psicanalítica, nos salva de nossas piores neuroses. Essa dimensão só me ocorreu após escrever a minha crítica para o site. Vendo o filme mais uma vez. Por me impelir sempre a renovar minha própria leitura da obra, não poderia deixar de incluir aqui o mais esteticamente deslumbrante de todos os filmes do dinamarquês – o sadiano Melancolia.

Iann Jeliel

Uma história em construção. Cinéfilo inconsciente, sempre assisti a muitos filmes – principalmente de meu gênero favorito: terror -, mas de forma descompromissada. Não faz tanto tempo que parei para realmente estudar as nuances da sétima arte, assim, ainda devo muitos clássicos a serem vistos, cinema fora do hollywoodiano, cinema mudo, cinema de diretoras, enfim, dentre vários outros setores que pretendo conhecer mais e ter as chances de mudar bastante esta lista. Enquanto isso, estes são os que mais me marcaram até agora, não só como qualidade cinematográfica, mas principalmente que ajudaram a moldar quem eu sou hoje, em gostos e posicionamento ideológico. O único critério mais objetivo é que só considerei um filme por diretor e por gênero, até para facilitar o recorte. Espero que se identifiquem!

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Um Corpo Que Cai

Vertigo | Alfred Hitchcock | ?? 1958

Já sabia da fama, e já gostava muito de Hitchcock antes de conhecer, mas jamais imaginaria o quão impressionante seria a experiência, tanto que assisti em companhia amorosa – algo que normalmente evito quando vou conhecer clássicos desse porte –, e poderia ter atrapalhado, mas fui tão hipnotizado e agarrado pela atmosfera transcendental do diretor, que eram apenas o filme e eu ali. E foi necessário somente uma vez para ele entrar nos meus favoritos, e uma segunda revisitada para figurá-lo possivelmente num top 3 da vida.

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Se Meu Apartamento Falasse

The Apartment | Billy Wilder | ?? 1960

O mais novo membro da lista, assisti pela primeira vez neste ano e fiquei completamente apaixonado, e digo isso não sendo dos maiores admiradores do gênero, mas falácia, só precisava conhecer o seu mestre: Billy Wilder – que pecado não ter conhecido esse homem antes. Merecedor absoluto do Oscar de Melhor Filme em 1961, é um filme completo, em drama, comédia, forma e conteúdo, com temáticas que transcendem seu tempo, um dos romances mais empáticos e comoventes já feitos, a comédia romântica definitiva. 

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Três Homens em Conflito

Il Buono, il Brutto, il Cattivo | Sergio Leone | ?? 1966

Premissa simples, uma caça ao tesouro e três arquétipos característicos o caçando, e graças à execução primorosa de Sergio Leone e à mágica absurda da trilha sonora de Ennio Morricone – a minha favorita da história do cinema -, essa disputa se torna uma dança poética, épica, um dos melhores exercícios de gênero a que já assisti, a ópera master do bang-bang. 

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Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio

Evil Dead | Sam Raimi | ?? 1981

Fã de terror como eu sou, tinha que colocar ao menos um título por aqui, e foi difícil, são tantas obras-primas ao longo das décadas, mas num espírito saudosista, escolho aquela que me apresentou a esse universo e criou meu vício no gênero. Nunca esquecerei do quão traumatizado fiquei ao assisti-lo pela primeira vez, aos 8 anos, uma relação de terror virou amor com o tempo, a cada reassistida só me impressiono mais e mais com o poder do grafismo, onde Sam Raimi sem qualquer recurso nos domina, diverte, amedronta e choca na mesma proporção. Vida longa ao trash

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Pulp Fiction – Tempo de Violência

Pulp Fiction | Quentin Tarantino | ?? 1994

O melhor filme do meu diretor favorito. O espectro da genialidade de Tarantino reside na forma como ele trata determinados elementos, a mise-en-scène é claramente mais importante do que o enredo e possibilita que a cada minuto uma nova cena icônica surja uma após a outra, com uma gama de figuras excêntricas inconfundíveis e extremamente carismáticas pela escolha perfeita de casting para os compor. Com o poderio dos diálogos subversivos, aleatórios e casuais, o cineasta cria um submundo da máfia único comicamente imprevisível. Não é meu segundo filme favorito à toa, é simplesmente genial. 

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Um Sonho de Liberdade

The Shawshank Redemption | Frank Darabont | ?? 1994

Sim, é o top 1 do IMDB, mas ele virou meu filme favorito antes disso. Este longa me transformou ideologicamente, mostrou o poder da arte como forma de redenção, aqueles presos de Shawshank tinham seus passados ocultados, porque não interessa muito o que eles fizeram, o que importa é que a partir da leitura, da música, do cinema (até mesmo de um pôster), eles poderiam se libertar. É meu filme favorito porque além de ser cinematograficamente construído de forma extraordinária, é uma lição humanista única. E o que seria da arte sem o seu poder de revelar nossa humanidade.   

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O Resgate do Soldado Ryan

Saving Private Ryan | Steven Spielberg | ?? 1998

Spielberg encena a Segunda Guerra técnica e emocionalmente de forma irretocável. Os primeiros 47 minutos são um milagre cinematográfico, é a emulação mais próxima do desespero de se estar no campo de batalha já feita no cinema, é épico, avassalador, visualmente estonteante e a premissa nem havia começado. Depois que começa, o diretor proporciona um passeio melancólico no cenário devastado para refletir  a memória histórica que aquilo representa.

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Matrix

Matrix | Lana & Lilly Wachowski | ?? 1999

Pode-se dizer que é o filme que me fez olhar para o cinema com outros olhos, assisti muito novo, não entendi nada direito, mas fui completamente sugado para aquele universo, replicava as sequências icônicas de ação, via repetidas vezes. Surgido como meu filme de ação favorito, mais tarde, ao compreender do que se tratava seu aspecto semiótico, se tornou a ficção científica preferida também, afinal ela é a mais simbólica da geração, principalmente referente a nossas relações com a tecnologia e realidades virtuais. Um marco indiscutível do cinema!

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Tarzan

Tarzan | Chris Buck, Kevin Lima | ?? 1999

Caso de nostalgia, já devo ter visto umas 200x, era sequencialmente quando pequeno, terminava de ver, já dava o replay, e foi assim por boa parte da minha infância. Mesmo revendo algumas vezes sob um olhar mais “crítico”, o carinho não acabou, pelo contrário, só se concretizou ainda mais, chorei, me emocionei, me arrepiei ainda mais com as icônicas cenas, canções do Phill Collins. Enfim, acho que é algo que nunca mudará, esta sempre será minha animação favorita.

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O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei

The Lord of the Rings: The Return of The King | Peter Jackson | ???? 2003

O desfecho completo, a maior conclusão de saga em todos os tempos, que se permite elevar a escala também no emocional a proporções maravilhosamente recompensadoras. É impressionante o envolvimento de 2 horas de introdução pelo detalhismo das variáveis. E quando chega a hora, mesmo que dividida em quase 3 clímax distintos, todos têm um peso dramático igualável e arrebatador. Um fechamento épico para uma trilogia que basicamente beira a perfeição e, consequentemente, minha favorita do cinema.

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